quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

As obras

Uma das práticas aberrantes do nosso tempo é enchermos as casas com livros. Quantos mais, melhor.
À medida que enchemos as casas com livros, esvaziamos as bibliotecas. Esvaziam-se de livros e pior, também de sentido. Bem sei que as bibliotecas tal qual as conhecemos são jurássicas e (a não ser que tal livro não possa ser requisitado, ou porque está muito frio na rua), ninguém se quer sentar em cadeiras duras a ler debaixo de uma luz medíocre.
Mas o conceito das bibliotecas é espantosamente democrático para os dias que correm e isso é mesmo muito valioso.

(à parte):

A bibliotecária da biblioteca que frequento trata tudo o que lá existe por 'obra'. Obra para cá, obra para lá:
 "-Essa obra não pode ser requisitada", -"De que prateleira retirou esta obra?".  Só obras primas, uma ternura! mas eu às vezes também gostava que se tratassem os livros com menos reverência e mais desassombro. Seria muito bom sinal!
Quando estou de mau humor (muitíssimo raro...), apetece-me dizer-lhe: - se você lesse um terço do que está aqui à sua volta, despedia-se pela janela, tamanha seria a náusea e a desilusão...

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