sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Não comeces sem mim 2011, que eu estou mesmo a chegar


Em português, cama, mesa ou cadeira são palavras femininas. Em russo, não. Cadeira, por exemplo, é do género masculino.

Alexandre Soares Silva refere-se ao português do Brasil como a 'língua quase-portuguesa'. Acho muito acertado e terno, até.
 
A natureza pode ser brutal e, muitas vezes, odiosa.

A esperança não é uma ameaça. Não pode.

Gosto muito de vozes. Vozes normais.

Tenho muitas saudades suas, Joaquim (ninguém mais me oferece Torga, ou Thelonious Monk).


Vivam os livros parvos! - e, já agora, os diospiros e a geleia de fruta! ligam lindamente uns com os outros.

Há economistas por todo o lado.
 
Guantanamo continua por 2011...

O pai natal existe

Este ano, o Pai Natal deixou-se de tretas e trouxe-me um par de sapatos Harlot, bem aconchegados nesta linda caixinha, feita a pensar nas donas de casa de comportamento exemplar.
O Pai Natal existe, é generoso, e sabe muito bem o que faz.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

As obras

Uma das práticas aberrantes do nosso tempo é enchermos as casas com livros. Quantos mais, melhor.
À medida que enchemos as casas com livros, esvaziamos as bibliotecas. Esvaziam-se de livros e pior, também de sentido. Bem sei que as bibliotecas tal qual as conhecemos são jurássicas e (a não ser que tal livro não possa ser requisitado, ou porque está muito frio na rua), ninguém se quer sentar em cadeiras duras a ler debaixo de uma luz medíocre.
Mas o conceito das bibliotecas é espantosamente democrático para os dias que correm e isso é mesmo muito valioso.

(à parte):

A bibliotecária da biblioteca que frequento trata tudo o que lá existe por 'obra'. Obra para cá, obra para lá:
 "-Essa obra não pode ser requisitada", -"De que prateleira retirou esta obra?".  Só obras primas, uma ternura! mas eu às vezes também gostava que se tratassem os livros com menos reverência e mais desassombro. Seria muito bom sinal!
Quando estou de mau humor (muitíssimo raro...), apetece-me dizer-lhe: - se você lesse um terço do que está aqui à sua volta, despedia-se pela janela, tamanha seria a náusea e a desilusão...

Pão e Amor

Se soubesse quanta tonteria e malvadez há aí na biblioteca...
Não, Knut, nem tudo é pão, nem tudo é amor!

sábado, 25 de dezembro de 2010

É Natal, ninguém leva a mal

 É muito injusto um doce tão bom chamar-se rabanada. A mim, ninguém me ouve a pedir rabanadas, digo, antes, fatias douradas.
Mas pior do que rabanadas, só coscorões, ou filhós, ou trouxas de ovos.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Lições do tipo: A grande educadora da massa social amorfa

Uma ideia para superar a crise (e de caminho higienizar o ambiente no lar português): cobrar uma taxa a todos os cidadãos que dizem que Casablanca é o filme das suas vidas.
(caso saia a custo zero, contagia-los com sarampo).

domingo, 19 de dezembro de 2010

Fim de citação


Rómulo e Remo (no sentido de Roma) encantam a declamar poesia a céu aberto, mas a sua maior especialidade é a citação, em quarto escuro.

sábado, 18 de dezembro de 2010

lupus et agnus

 Duas parêmias com lobos e cordeiros:


Enquanto o lobo se instrui em crer em um grande poder,
A atenção do seu olho sempre se dirige para o cordeiro.

---

Não nos causa grande admiração, se o lobo come o cordeiro (Ba 53)

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

domingo, 12 de dezembro de 2010

angústia para o jantar, digo eu

Na imensidão de poemas e autores que há em "Rosa do Mundo", encontrei o palestiniano Yusuf Al-Saigh :


quando regresso a casa, cada tarde,
a minha tristeza sai da alcova dela,
com a sua capa,
começa a seguir-me:
se caminho, caminha,
se me sento, senta-se,
se choro, chora com o meu pranto
até à meia noite. e nos cansamos.
então, vejo que a minha tristeza 
entra na cozinha,
abre a porta da geleira
tira um pedaço escuro de carne
e prepara-me o jantar.

De rosas e de espinhos

a página 91, da minha edição de  'Songs of Innocence and of Experience - Showing the two contrary states of the human being' publicada por William Blake, 1789. A minha é a edição da Assírio e Alvim, de 2009, com tradução de Jorge Vaz de Carvalho

From  'Songs of Innocence and of Experience - Showing the two contrary states of the human being'
William Blake, 1789

 A flower was offered to me,
Such a flower as May never bore;
But I said "I've a pretty rose tree,"
And I passed the sweet flower o'er.

Then I went to my pretty rose tree,
To tend her by day and by night;
But my rose turned away with jealousy,
And her thorns were my only delight.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Considerações nada concisas sobre o excesso

Ludovico não era um desses homens vulgares. Era um homem feio.
- Desumano, de tão feio, ouvi-as dizer, entretidas a descaroçar frutos difíceis para a geleia.
Há algo nas pessoas feias que nos faz querer continuar a falar delas e sobre elas e eu não estou muito certa sobre a razão disso. Deve ser do excesso. Como não prestar atenção ao que nos ultrapassa?

Ludovico era um homem feio e não deixou a Lourença outra alternativa senão a de sucumbir ao excesso e cair desamparada numa paixão que elas diziam louca, mas que se veio a revelar cega.

sábado, 27 de novembro de 2010

geleia de marmelo vs orçamento de estado

 Arquitectar um orçamento de estado, com pouco para distribuir, não é tarefa simples, mas descascar marmelos (melimelus) cortar e retirar sementes, também não. Deixa as mãos doridas, arranhadas e com bolhas.

domingo, 21 de novembro de 2010

Sobretudo dedos


Desde que me entreguei, sem travões, aos prazeres da vida fácil que há nos teclados, desaprendi a minha caligrafia. Nunca pensei que desaprender pudesse ser tão indolor. A minha caligrafia desvaneceu-se por falta de uso e foi um alívio, porque enquanto existiu era medonha e autoritária. Uma monstruosidade que criei, alimentei e julguei insubstituível.

A dedicação fiel aos teclados enche-me de alegrias, mas tem altos e baixos, muito derivado do temperamento dos meus dedos.

Certos teclados parecem querer escrever sozinhos, o que não me agrada de todo: ainda nem sequer teclei e a palavra já lá está, sem vigor algum. São teclas demasiado delicadas, por onde os meus dedos, nada delicados, deslizam e escorregam sem atitude nem postura. E, por arrasto, as palavras também, mas no pior sentido.
Faz falta uma dose de pressão e ânsia.

Há ainda aqueles teclados ergonómicos e bem desenhados, esteticamente muito capazes, mas onde sobram dedos por todo o lado. Uma lástima...

Já me encantei com um teclado de teclas profundas, onde teclava como se estivesse a caminhar com pressa de chegar e com neve pelos joelhos. Foram quilómetros nisto. Uma fase de escrita batalhada e suada, que os meus dedos não desgostaram, dado que não se retraem em terrenos adversos. Mas foram vencidos pelo cansaço.
Noutra altura, uma estranha combinação entre o formato de um certo teclado e a articulação dos meus dedos, produziram uma irritante cadência de gralhas em tudo o que escrevia. Irritante, mas também fascinante! Os meus dedos viciaram-se em gralhas e não foi nada, mas nada fácil sair daquilo.  

Escrever é sobretudo dedos. Entrosamento entre dedos e teclados (ou o que for). Estarei a habituar mal os meus dedos?

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Amor na cozinha

'Cozinhar é um modo de amar os outros',  alguém bordou no canto de uma cortina .


Agrada-me muito quando um livro me escolhe.

Od (io) ao campo



-Não há no campo maior verdade do que a que sai dos tubos de escape em hora de ponta. 

Ah, a vida no campo!  

-Tanto ar puro e eu de nariz entupido!

Há uma cantilena que vem do campo para nos levar…  estende-se até onde encontrar a vida de uma cidade. Assobia virtudes, irresistíveis até para quem entende de arte contemporânea.  Contudo,  não se ouvem da autoestrada.  – Eu sigo por aí e não cedo a desvios.

- Não há no campo uma paz profunda, como a que invade o asfalto das autoestradas  e vias rápidas de longo percurso. Zzzzzzzzzzzzzzzzzzz… 
 
Para que diabo nos quer o campo?
O que nos quererá, que já não tenha levado?  

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Caça, Caçador, Caçada

Gostei de ler 'Leite Derramado' (Chico Buarque, D. Quixote, 2009) e acho que merece bem o PT (ao contrário do que tenho lido e ouvido por aí). Devo dizer, até, que já antes, me tinha agradado ler 'Budapeste' (D. Quixote, 2008). De todos os que li, apenas 'Estorvo' (1991) não me deixou  grandes memórias.
Talvez até não me importasse que Chico me lesse uns parágrafos, ou umas páginas de algum dos seus livros. Se se proporcionasse. E eu até antipatizo que me leiam seja o que for.
Chico compõe e canta. Escreve para as suas canções. Canta, dando a ideia de que aquilo está ao alcance de qualquer um... Eu acho que esse é um dos grandes trunfos de Chico, seja a cantar, seja a  a escrever.
Além de tudo isso, Chico tem muito charme.
Eis, Chico!
 

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

poets & scientists

it is poets who are widely supposed to have souls, while scientists must be content to have only minds...

(i am not a poet
 i am not a scientist)

terça-feira, 2 de novembro de 2010

da vida dos livros

Certos livros têm até muita sorte em ir parar a uma prateleira. E aguentarem-se por lá, com aquela vizinhança toda.

Cheguei à conclusão que a mesinha de cabeceira não é o local mais apropriado para os livros. Ou, pelo menos, para todos os livros, indistintamente. Há que avaliar as suas naturezas e singularidades dos seus temperamentos antes de os sujeitar a isso.
Certos livros alteram-se na mesinha de cabeceira e nunca voltam ao que eram. 

Há uma atracção irresistível entre lareiras e livros . Ser consumido numa (ou, por uma) lareira é a grande oportunidade de vida para muitos livros. É o êxtase!
Há livros que, embora lidos, nunca chegam a ser verdadeiramente consumidos. Não é terrível? Não é dramático?
Com uma lareira por perto isso nunca acontece. É uma segurança.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

UE e direitos humanos (1)

Por que não ter a coragem de fazer a diferença naquilo em que a UE pode, de facto, fazer a diferença?

uma sugestão aparentemente ridícula:
que tal deixar de comprar algodão ao Uzbequistão?

A minha agenda

 Lembro-me de desfolhar a agenda antes de a comprar, mas gostei tanto dela logo ali, que não me apercebi de nada desagradável (e se eu sou sensível a cheiros!). 

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

es+ventre+ar

Simpatizo com figos esventrados. Mais ainda se for eu a esventrá-los, quando se aproxima o momento de ir fazer alguma coisa verdadeiramente importante e difícil, até. Já os esventrei, agora vou-me!

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

mais Net

  É muito mais fácil e credível, até, dizer que não recebi uma sms, arranjar uma boa desculpa para recusar uma chamada no telemóvel (e mandá-la para o espaço), ou até extraviar uma carta (se isso ainda existir), do que evitar um contacto na net. Eu acho isto contranatura. É no que dá tanta obsessão com a seriedade e a credibilidade na net.  bullshit.

Sem fim

Um dos ingredientes mais excitantes da Internet é aquela sensação de imensidão e de inesgotáveis possibilidades. Falsa? Pode ser, em parte.  Mas é o princípio de tudo. É o impulso.  

Jane Austen's Fight Club

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

ainda as máquinas...

"Lucas permaneceu imóvel junto à máquina, se bem que fossem horas de ir para casa. A máquina tinha o aspecto de sempre, correia e alavancas, roda dentada.
-Quem precisa de temer a fusão? - disse Lucas.
Mas ele tinha medo. Temia a persistência da máquina, a sua capacidade para estar ali, sempre ali, e a sua própria obrigação de regressar a ela depois de um breve intervalo para comer e dormir. Um dia voltaria a perder-se nos seus pensamentos, e seria arrastado para dentro da máquina, tal como Simon. O seu corpo seria estampado (quatro à largura, seis ao comprimento), e expelido; seria metido num caixão e transportado para a outra margem do rio, de tal modo desfigurado que ninguém o reconheceria, nem os vivos, nem os mortos".

in "Dias Exemplares" , p. 45
Michael Cunningham 
tradução de Rui Pires Cabral
Gradiva

Um certo charme

 
 ... 'certo' no sentido de particular. Especial. Singular.
Aleluia!
Ainda por cima com um olho de cada cor
:)

domingo, 24 de outubro de 2010

Máquinas e homens

Como é possível uma máquina devorar um homem? Levar-lhe os dedos, ou um braço? Esmagá-lo, até? E depois dele, vir outro homem e  continuar, como se nada fosse (com pensamentos de mais cuidado e respeito pela máquina).Há máquinas que só param quando bem entendem. Entretanto, estão só à espera de uma breve desatenção, um deslize de nada. É do que precisam.
Quando penso no amor que é obsessivo e sem fim, penso logo nas máquinas e nos homens. Na repetição. Nos movimentos repetidos e obstinados, (que é de onde nascem os resultados. Alegrias). 

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Saber receber

Há países e cidades com uma enorme vocação para receber. E não é só por mero interesse, ou porque dispõem de estabilidade social e política. Vai muito das suas gentes, que se habituaram a ter e conviver com os de fora, com naturalidade. Nem sempre sem animosidade.
Receber os outros é uma enorme e inestimável qualidade mas, por razões diversas (entre as quais uma desconfiança e tacanhez também fruto dos condicionalismos geográficos), muitos povos não a desenvolveram. Nós. Nós, que andámos a cravar quinas em todos os cantos do mundo e a ser recebidos um pouco por todo o lado para fugir à pobreza extrema, ou às perseguições e à asfixia da ditadura, não estivemos à altura de receber os nossos, os da pátria, que fugiram de uma guerra, em 75. Recebemos, que remédio, mas com hostilidade e com inveja, até. Isso diz muito de nós.
Temos a casinha aberta é certo, mas se não vierem...
Quem recebe bem, recebe sempre da mesma maneira.
Nos últimos anos, temos feito um esforço para conviver com os de fora, estamos a aprender, mas isso não nos dá entrada no restrito círculo dos países e cidades que sabem receber. Na fila, a anos luz de nós ainda estão Amesterdão, Berlim, ou até Barcelona. Imagine-se!  
Na Europa, os países com mais longa e mais forte tradição de receber de braços abertos e em doses massivas são a França e a Inglaterra. Eu acho mais correcto dizer: Paris e Londres. 
Nova Iorque não fez mais do que imitar o que, noutros tempos, fizeram Paris e Londres. Duas cidades grandiosas, que durante décadas receberam, receberam e receberam (é injusto não nos lembrarmos disto agora, nos momentos menos bons).
Hoje, não se entra nestas cidades com a mesma facilidade. Há muros e arame farpado. Há expulsões. Há medo. Falta emprego. Há uma sangria de conflitos e tensões sociais acumuladas.
Nada mais vai ser igual.
Isto não faz delas cidades mais xenófobas do que Lisboa.

(Acho excessiva e até absurda a ideia do colapso do multiculturalismo, como defende Angela Merkel, mas acho corajoso levantar a questão e obrigar-nos a pensar nisso).

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Isto sim, é 'Breakfast at Tyfffany´s'

Entre a Mag e a Holly:

-Se eu me conseguisse habituar à ideia de me casar com um brasileiro... e de ser também uma b-b-brasileira (...)
-Inscreve-te numa escola de línguas.
- Por que raio haviam eles de ensinar português?  Não, só tenho uma hipótese, que é tentar tirar a política da cabeça do José e fazer dele um americano. Que aspiração tão inútil para um homem, ser p-p-p-presidente do Brasil. 
Suspirou e pegou no tricô.
- Devo estar loucamente apaixonada. Tu viste-nos juntos. Achas que estou loucamente apaixonada?
- Bem, ele morde?
Mag falhou uma malha.
- Se morde?
- Se te morde. Na cama.
- Ora, não. Porquê, devia? 
E acrescentou com um tom de censura:  - Mas ri-se.
- Boa. É assim mesmo. Gosto de um homem com humor, a maioria deles só arquejam e suspiram.

domingo, 17 de outubro de 2010

Um livro semi-exacto

Antes de entrar em "Dias Exemplares" tropecei numa nota onde o autor, Michael Cunningham, explica que o livro é "semi-exacto".
O que é exactamente, um livro 'semi-exacto", Michael?
Resposta: "mistura ficção com realidade" !

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Importar, de importância

É errado maldizer do companheirismo entre dor e alegria (nesta ordem). É uma aliança prodigiosa, pois dela depende, em boa medida, a nossa salvação (que o digam os que 'vivem' no Iraque);
Tem que haver sempre mais alguém, alguém que se importe (que o digam os mineiros do Chile).

No Chile

Quantas vezes a dor e a alegria (felicidade) não andam lado a lado.
Estão bem juntas em São José.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

De como as aparências podem iludir, mesmo tratando-se de aves


Consultei algumas personalidades aqui da vila sobre a algazarra que as gaivotas fazem por volta cinco da manhã, em alguns períodos do ano. Com, ou sem tempestade no mar. Na verdade, na maior parte das vezes, sem motivo aparente.
Puxei conversa desinteressadamente entre bom dia, boa tarde e sem dar a entender o que verdadeiramente penso sobre as gaivotas e o barulho que fazem, o destino que lhes desejo e o fim que lhes daria, se tivesse essa faculdade...
 Eles:
1) que é da "porcaria da marina que pr’ali construíram e dos barcos que as expulsaram!!! ( o Sr. Manuel, da mercearia);
2) que é da falta de peixe no mar, que as obriga a procurar alimentos em terra !!! (a Sr.ª que me vende peixe, no mercado);
3) que andam perdidas e intoxicadas, por causa da poluição!!! (o Sr. do quiosque).
Nada do que ouvi me convenceu e, na verdade, fiquei um pouco surpreendida com a falta de lucidez das explicações, mas também com a ligeireza com que me responderam, dando ideia que sim, ouvem o barulho, mas nada de extraordinário! Afinal, trata-se de um bando de aves a guinchar descontroladamente a partir das cinco da manhã!

Na verdade, eu tenho as minhas suspeitas sobre o assunto (temos sempre) mas…  
Estava convencida que alguém me fosse dizer, “são umas desavergonhadas, piores que os coelhos”, ao que eu responderia logo: ” sim, de facto, é o que parece, embora excessivamente entusiasmadas, para aves...”. Mas como ninguém aludiu sequer a tal (e tratando-se de gente que conhece os hábitos e costumes das gaivotas), escusei-me a entrar por aí. Não fossem começar com olhares esquisitos. 

Enfim!
Alguém se encantou um dia com um bando de gaivotas em voo e vislumbrou ali uma ideia de liberdade, que muitos outros foram confirmando e afirmando ( nada de politiquices se faz favor). Já eu, oiço um bando delas a guinchar tresloucadas em alta voz, madrugada após madrugada, e se alguém me disser que existem aves no inferno, eu asseguro que só podem ser gaivotas.
 Acho que “tudo se resume a bons e a maus encontros” , como diz a velha máxima de Spinoza.
Eu e as gaivotas não temos bons encontros! E como gosto muito de viver por aqui, terão de ir guinchar assim para outras paragens. 
 
(amanhã de madrugada informo-as). 


quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O sorriso de Vargas Lhosa


Interessa muito pouco conhecer a fisionomia de quem escreve os livros. Gosto de a tentar imaginar, à medida que leio. (não é fácil porque, à excepção do Coetzee e da Gabriela Llansol, toda a gente aparece em grande, nas fotos de contra-capa).
Conhecia muito vagamente a figura de Mario Vargas Lhosa, quando comecei a lê-lo. Uma edição de "Conversa na Catedral" (sem foto), deu-me o mote para ir construindo uma fisionomia que, confirmei depois, estava longe do original. É um exercício surpreendente e curioso.
Gosto do sorriso franco e largo do Mario Vargas Lhosa, nesta foto.
Imagino-o assim, ao saber do Nobel.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

República I

Não deixa de ser sintomático do elevado estádio civilizacional da pátria e até do profundo e comovente humanismo que caracteriza as suas gentes, que a comemoração dos 100 anos da proclamação da República, por esse Portugal fora, seja, em grande parte, alegremente animada pela reconstituição de um momento negro e ignóbil da história de qualquer país: a morte (assassínio) de dois homens.
A barbárie pode ter muitos rostos. Geralmente, aparecem em magote e trazem as melhores das intenções.

República II

 Não sair do sítio, cansa. Pode até matar!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Pode ser

-Pode dizer-se que seja um coração grosseiro?
-Não, que brutalidade! Não é aceitável, sequer.
-Mas é tão pigmentado e cheio!
-Creio que pode ser um coração farto, mas não é nada comum.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Liberdade de acção


Ainda não vi o “Filme do Desassossego” , mas a propósito da estreia, ouvi o realizador, João Botelho, dizer que não é possível ver-se o filme a comer pipocas e a beber. Optou por levar o filme para um circuito alternativo onde supostamente estará um público mais receptivo  e mais “respeitador do cinema”, como diz. É uma opção muitíssimo acertada e sensata, porque Botelho acha (e bem), que nas salas comerciais o filme vai ser abafado.
 Eu conto ir a um desses locais alternativos ver o “Filme do Desassossego”, mas não aprecio nada que me digam que tipo de espectadora devo ser. É um  mau princípio sugerir, pretensiosamente, certos requisitos de comportamento para se ver o filme, insinuando que a grande maioria dos espectadores de cinema os desconhece e desrespeita. É uma mensagem errada, de que padece muita criação artística que se faz no país. Até porque me parece difícil que alguém vá ver um filme português, seja qual for, acompanhado de um balde de pipocas. A dicção dos actores e o som, no geral, são tão miseráveis que, não raras vezes, é necessário fazer-se um esforço titânico de audição para se entenderem as falas. Quem se arrisca ainda a trincar pipocas nestas circunstâncias?
Há muitas maneiras de ver e de estar no cinema. Quem entra numa sala para ver o intrigante 'Canino' (Yorgos Lanthimos), ou o especialíssimo 'Lola' (Brillante Mendoza), sabe que o simples facto de se fazer qualquer outra coisa que não seja estar, atentamente, subtrai a dose de presença imprescindível a um bom entendimento com o filme. Há alturas em que é preciso entrar em olhares e silêncios que perduram e nos consomem. Nunca vi nem ouvi pipocas neste cinema.
 Em contrapartida levo sempre um balde delas quando vou ver um James Bond. Se há cinema que pede concentração, há um outro que implora acção! E isso também não pode ser contrariado. Pelo contrário, pode proporcionar até, muitos ensinamentos.
Desconfio que, se os apreciadores, ou espectadores de cinema (ups! disse cinema…) pornográfico tivessem de obedecer a um padrão de comportamento desejável, talvez este nunca se tivesse tornado no estrondoso sucesso de ‘bilheteira’ que é. Também é , apesar dos pesares, uma certa ideia e postura de liberdade, que está aqui em causa. Nomeadamente, liberdade de acção! 

O 'grande dia' está a chegar. E sorri (primeiro) no feminino

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

No 44 é assim

Lisboa.
Viagem no 44, até aos Cais do Sodré.
Desfocada, sim, mas o meu LG GS290 não dá para mais. E eu também não quero mais. Já a revi por diversas vezes (com som, sem som, a partir do meio, só o fim...) e consigo encontrar sempre elementos novos. Já para não dizer que isso me dá sempre novas perspectivas da viagem e dos locais. Desconfio que tanta fartura derive do esforço que eu faço.

A minha perdição é aquilo que, até onde a vista alcança, não aparenta qualquer interesse.
Porque pode não ter mesmo interesse nenhum.

Título

natureza morta com diospiro
Não como pão sem sal...
(Mas sei que há quem coma. Até por precaução e receio de acidentes cardiovasculares)

O Outono é curioso, mas ainda estou à espera da chegada dos diospiros.
Atenção aos diospiros quase maduros,
têm um cheiro excessivamente delicado. Quase nada.

Prefiro cheiros tóxicos,
no início.

É uma cor linda, a dos diospíros, mas por estranho que pareça considero o verde a cor mais inusitada que existe. Dependendo da tonalidade, tanto pode ser enfadonho, como sedutor e muito luxuriante, até. Mas nunca vulgar.
O meu preferido é o verde corpulento das folhas de japoneira, quando brilham à luz das manhãs geladas de Inverno.

Não é nada fácil vestir verde.
Não é nada fácil comer um diospiro.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Torpor alcoólico

Muitas vezes, mais até do que possamos pensar, a culpa é mesmo do vinho.
Mesmo quando (ainda) não foi bebido.

Outro Parvo no Meu Lugar

Às vezes, não dá jeito nenhum encontrar outro parvo num lugar que é nosso!
Outras, é o melhor que nos pode acontecer.
Obrigada, parvo! (tu e o lugar foram feitos um para o outro)

:)

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Saber a que sabe uma vida normal



Quanto a transportes públicos citadinos, utilizo-os com muita frequência : são úteis à débil saúde das minhas finanças e têm utilidade nas andanças da cidade. É tudo. E a maior parte das vezes, é muito.
Fora isso, antipatizo brutalmente.  Tendem a facilitar a vida, é verdade, mas não a favorecem.  São como certos remédios: dilatam o tempo de vida, mas tiram-nos o brilho. 

Dentro da gama dos citadinos vulgares, porém, devo dizer que tenho uma certa queda pela personalidade do autocarro.   Acho que é a minha curiosidade meio enfermiça por dois grupos profissionais típicos da Lisboa trabalhadora:  funcionários de repartições (não confundir com escritórios, ou pelo menos, não misturar) e lojistas. Reconheço-os bem, com os seus sacos de plástico (ou papel reciclado), que deixam no corredor, calças por cima do tornozelo (elas), sapatos de borracha (eles). Utilizam o passe social e fazem nascer certos  ambientes dentro do autocarro, porque há odores comuns e há aquele tempo disponível, para partilhar. Diz-se alguma coisa, olha-se lá para fora. Vive-se uma normalidade estupidamente reconfortante.
Querem sentir o que se sente com uma  vida normal? Normalíssima? É apanhar o 44, ou o 45 no Campo Pequeno, por volta das 16.30h e ir.
Agora, não se queixem de falta elegância, ou glamour… não há milagres!  Não é o 757 para o JFK e, como sabiamente diz o livro do João Villalobos “As mulheres bonitas não viajam de autocarro”.  

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

lições de português

-"Há diversas escolas de língua portuguesa, em Zabreb", conta a minha amiga Laura, que ensina numa delas. A esmagadora maioria dos alunos chega por via da simplicidade contagiante da música brasileira, enquanto outros seguem o rasto dos livros de Pessoa, ou de Gonçalo M. Tavares. E querem o original.
(não têm mau gosto, os croatas).

Laura defende que a "exótica" língua portuguesa entrou numa espécie de movimento alternativo, que está a contagiar a população mais jovem e artística da noite de Zagreb. Gente que se encontra em bares para discutir "O Livro do Desassossego" e "Jerusalém", ou para trautear Otto e Seu Jorge!

sábado, 11 de setembro de 2010

Pré-História

Caminhar para Neanderthalis, mantinha-o Erectus. Mais e mais Erectus.
É certo que aquelas mandíbulas...
Mas o que fazer? Como desperdiçar tamanha oportunidade de evolução?

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Uma tara

Alguns pensamentos, depois de ler White Jazz:

Dave tem uma tara pela Glenda. O termo foi usado pelo próprio Ellroy, na noite das filmagens, quando Dave a viu pela primeira vez, ao longe. -"Uma tara", repetiu Ellroy, noutras ocasiões.
A Glenda e o Dave em conversas, no apartamento de Los Angeles, noite dentro. (sexo).
Dave é advogado, é tenente do LAPD , é corrupto. Tão corrupto...
Tem pinta, sabe falar. Pensa muitas vezes na Glenda. Tantas, que nos leva a imaginar que ela também pensa nele.
Já provou de tudo e não receia grande coisa.
Teme, isso sim, que Glenda deite tudo a perder, que é o que pode acontecer se se puser com futilidades grosseiras e previsíveis, do género: "Amo-te, Dave"!

domingo, 5 de setembro de 2010

A figueira é a preciosidade do jardim da Rute

Talvez por causa da textura áspera das folhas e do barulho seco que fazem quando se tocam,
 ou dos figos,
ou talvez seja só do perfume que tudo isto liberta numa noite de Verão,
quase sem vento.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Enjoo

Em bom rigor e sem complicar, o problema do enjoo está no duplo círculo final 
As palavras com efeito são um enjoo!

( isto é quase (quase) como o ovo de Colombo)

Nada de pensamentos

A Glenda Bedsoe e o Dave Klein:

O Dave (levantado):

- "Peguei na gabardina dela e estendi-lha.
Ela levantou-se, a sorrir.
Toquei-lhe.
Ela vestiu a gabardina. Ajudei-a e toquei-lhe nas cicatrizes.
A Glenda virou-se lentamente e beijou-me.
(...)
Nada de pensamentos."

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

AA - Anonimar por aí

Não, nada a ver com o texto
 Dizem-me que os anónimos são todos desprezíveis, uma corja de canalhas e cobardes. Pois eu digo: não é verdade! Há uns e há os outros. De uns, felizmente percebo pouco ou nada, de forma que estou tentada a falar dos outros.
Por exemplo:
-os que gostam de não dizer coisa com coisa;
-os embaraçados;
-os inteligentes e sensíveis que, por pura amizade ou consideração, não querem criar problemas desnecessários, mas gostam de opinar;
-os que dão erros ortográficos;
-os que estão apaixonados pela pessoa errada, mas querem estar por perto;
-os que preenchem as caixas de comentários;
-os que vagueiam pela net e fazem companhia a tanta gente e aos próprios;
enfim… há tantas e nobres razões para se ser ‘Anónimo’.

Há que ter em conta que, na net, o ‘Anónimo’ conquistou uma certa espessura enquanto sujeito e isso retirou-o daquela dimensão meia vaga e gasosa em que se movia, fora dela. Antes, era mais ‘uma situação’
(por exemplo: um telefonema anónimo, uma queixa anónima, etc) e agora transformou-se num sujeito, a quem, inclusive, foi atribuída uma designação: “Anónimo”. E exibe-se orgulhosamente em quase todas as aplicações, com direitos idênticos aos da Isabel, do António, ou do Vítor Manuel. Online não há discriminações e isto - tendemos a esquecer -, é um bem inestimável. Se o sujeito Anónimo/a é respeitoso, bem humorado e não dá secas, como recusar uma boa conversa?

O problema disto é a velha estória do sistema que criou um monstro, que por sua vez tomou conta do sistema. Não há rosas sem espinhos, já se sabe. Torna-se tão fácil e apetecível escolher-se: ‘Anónimo’, que facilmente podemos cair em tentação, e voltar a cair, e voltar… Como sair disto? É que, inventarmo-nos pode ser muito viciante, mas descobrirmo-nos e deixarmo-nos ir, também.
Como abandonar este circo vicioso?

Talvez uma associação de apoio aos “Anónimos Anónimos”. 
"Boa tarde, eu sou 'Anónimo' e ontem anonimei..."

sábado, 14 de agosto de 2010

O segundo banho no mar

Estou regressada de uma tarde de banhos de mar. Sou a mesma pessoa, mas com novas células. 
Melhor do que um banho no mar, só mesmo o segundo banho no mar. Todos os que se seguem são igualmente deliciosos, mas nada se compara ao segundo banho no mar, quando já sabemos o que nos espera porque já nos tocámos e está a pele preparada, já seca, a querer muito entrar outra vez no mar, para se refrescar. É a segunda vez, mas é uma surpresa.
Dantes pensava que somente os ébrios entravam no mar na madrugada do 1º dia do ano. É um engano. Muitas das pessoas que o fazem estão bem lúcidas. Querem sentir o vigor do mar, aquela força. Eu nunca experimentei, mas sempre que entro no mar lembro-me disso e entendo lindamente. Principalmente quando entro já com a pele ressequida, da segunda vez.

No rio é diferente. 
Ninguém vai ao rio tomar um banho revigorante no 1º dia do ano.
Adoro rios, o barulho que fazem a passar nas pedrinhas, os limos, as correntes, as quedas. (Mas entro com algum receio, é escuro).
Um banho de rio é apaziguador. Não é só por se poder beber,que se diz "água doce". Há ali uma doçura na maneira como a pele escorrega. No primeiro, ou no segundo banho. Tanto faz.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

ohhh, so lovely !!

A calçada portuguesa é 'so lovely' , mas não para quem anda a martelar paralelipípedos desengonçados e a encaixá-los como pode, debaixo de 40º à sombra. A isso chama-se trabalho escravo. É isso que é a calçada portuguesa, vestígios vivos de trabalho escravo. Já há muitos pavimentos que imitam bem a calçada e que podem  muito bem ser utilizados nas avenidas. Mas não! Não se pode perder a tradição! Martelem, escravos. Pedra a pedra, que é tão bonito de ver!

 
E que belas caminhadas se fazem por este belo empedrado medieval. Além de trabalho escravo, é vergonhosamente desleixado. Todas as cidades e vilas com a 'so lovely' calçada portuguesa têm aspecto sujo ( são raras as excepções e agora, de repente, não me lembro de nenhuma). Não deve ser simples de limpar, presumo.
Na zona histórica de Cascais, onde vivo, quase só existe calçada portuguesa. Suja, torta, esburacada, desmazelada. Trabalho escravo, pedra a pedra.
'So lovely'!

So lovely


What can i say, ohhh! So lovely!






... not only lovely, but extremely charming too

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A Volta

Certa ocasião o P. ofereceu-me um dvd onde gravou horas de "A Volta a Portugal em Bicicleta". Não era um resumo, mas “a versão quase integral das melhores etapas”, garantiu-me. Foi nos tempos em que a RTP2 ainda fazia longos directos das melhores etapas comentadas por uns senhores, não sei se todos jornalistas, mas todos com um tom de voz estupendamente monocórdico e com um palavreado muito técnico e prof.. Dezenas de bicicletas a deslizar umas atrás das outras e um coro a repetir as mesmas coisas numa cadência rolada, influenciada pelo próprio pelotão. Um mimo!


Cada um só pode (deve) falar da sua experiência e eu experimentei ali, naquele bendito dvd da Volta, um portentoso soporífero, que aniquilou as minhas abusadoras insónias de Verão que me torturavam e, por arrasto, consumiam ainda mais o P.
Um achado, o bendito dvd!

É bem de ver que, para mim, a Volta a Portugal em Bicicleta ganhou um interesse especial, nasceu um certo carinho, que não se deve apenas ao sono, devo dizê-lo. É preciso ver que há ali uma dureza, um desafio aos limites físicos que chega a  fascinar. Qual futebol, qual boxe… 40º à sombra e aquela rapaziada a atravessar o país sem largar o pedal. Chegar à meta, em cada etapa, e logo um enxame de gente a sufocá-los com palmadas nas costas e a fazer perguntas. E eles a aguentarem-se, rijos! Gosto dos palanques improvisados e das meninas pouco vestidas que agarram os camisola-amarela e chuuac, com muito suor! Gosto dos capacetes aerodinâmicos e dos raminhos de flores mal arranjados.
Parecem rebentar naquela roupa colante. Mas festejam, felizes, os camisola-amarela.

Nem sei bem explicar isto, mas sempre achei que o ‘folclore’ da Volta tem uma estética muito ibérica.

Voltaram as noites quentes de Agosto e eu tentei ver uns resumos da Volta que passam na TV.  Mas está tudo muito diferente, mais acelerado, novo palavreado, muita net!-  "Nã... isto não é para mim" - comentei com o P.- ,  vou é procurar o meu dvd.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Bichinhos de conta

Há dias vomitei à saída da tua casa. Deves ter reparado, e não te deve ter sido nada difícil perceber que fui eu. Devia ter-te dito, mas na verdade não aconteceu nada de original, passei inadvertidamente por tua casa e encontrei aquele bichinho de conta. Foi só.
É certo que eu já o conhecia por ali, mas sempre o ignorei: quando queremos muito, muito... não é um bichinho de conta que nos assusta.
Até ao dia em que aconteceu o inesperado, uma repulsa. Consegui sentir-lhe o cheiro desagradável ( até tinha ideia que estes bichinhos não tinham cheiro), aquele andar dissimulado, fingido que se enrola, assustadiço quando nos aproximamos  ( atento às fragilidades e a querer atenções).
O meu estômago reagiu antes de mim. O meu estômago não o suporta. E isso é um alívio!

terça-feira, 3 de agosto de 2010

miminhos para 'inglês' ver

Um post, ou direi nota, universal. Aqui, com o toque original do duplo sublinhado e em versão bilíngue e aumentada, porque cada um tem os miminhos (e espinhos) que merece.
Disse "Imediatly"? 

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Não é à toa que se chamam gralhas, Paulina Dias

Os escritos da Paulina Dias têm gralhas. Nunca mais do que uma por escrito. O quanto baste.
Paulina fá-lo de propósito, pois gosta de brincar com a língua.

Alguém já disse baixinho que é um tipo específico de dislexia "e até se pode tratar". Outros, maldosamente, insinuam "excessos e até desconsiderações de língua".
Não vou comentar.

Os escritos da Paulina Dias devem ser lidos sem negligências. Dá trabalho. Custa. Ela até graceja: "Não falta quem escreva, o pior é ler!" Mas isso é ela a brincar, porque a verdade é outra, bem mais dura e exigente: horas e horas de trabalho a dedilhar no teclado, ensinar os dedos, treiná-los um por um a deslocar uma letra aqui, acrescentar ali, eliminar mais à frente.  Ops, gralha!  Automatismos que escapam à vista e ao entendimento da própria Paulina. Uma gralha no local certo e logo os leitores num mar de dúvidas: "será isto, será aquilo, o que quer dizer?..." Não lhe perguntem porque ela também não sabe. E os dedos não esclarecem.
(quem lê é que se trama. Sempre).
Paulina tem a língua portuguesa na ponta dos dedos. Literalmente! Ensinou-lhes tudo o que havia a ensinar e não tem mão neles. É isso que verdadeiramente mexe com ela.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Sem prazer, esqueçam!

Eu e a Brígida assistimos a uma espécie de palestra sobre literatura e novos media. Corria tudo lindamente, até um dos presentes monopolizar as atenções com uma conversa gasta e entediante, do género: "o livro impresso vai deixar de existir? Estará para breve? O que acontecerá ao livro? Ohh, os tablets não têm cheiro. Ohh! vou sentir falta do papel a deslizar nos dedos. E os separadores? ou marcadores? qual será o seu destino? um museu? ... tarari, tarará, tarari, tarará...

- A ideia que temos de um livro é muito marcada pela sua forma. Isso torna-se muito claro quando o livro passa para o formato digital (e tem graça). Já pensaste nisso,  Brígida? Não vejo problema algum em ler-se um ‘livro’ (será um livro?) num ecrã. De todo, não fosse dar-se o caso de os tablets ainda se encontrarem na idade da pedra quanto ao conforto e prazer da leitura. Não sabem nada sobre isso. Zero! E sem prazer, esqueçam. É o que te digo, Bri.

Neste ponto, a Brígida fez um estrondo enorme com o livro que tinha nas mãos. Disse-me:
-Acabei de esmagar um mosquito aqui com a contracapa do 'Half a Life', do Naipaul. Achas que o conseguiria fazer com um Kindle? um iPad? ou qualquer outro?
Com o meu portátil não resulta, já tentei!
Ah e digo-te mais: este mesmo 'Half a Life' (incansável) livrou-me ontem de torrar o crânio no inclemente sol da praia do Guincho. Fez as vezes do chapéu que me esqueci em casa.
A minha questão é esta e sempre a mesma: um tablet faria o mesmo?

Quando o fizer eu também vou para a fila comprar um.


Nota: (vale a pena conhecer os recentes estudos de Jakob Nielsen sobre as prestações do Kindle e do iPad)

terça-feira, 27 de julho de 2010

Tome lá um e dê cá dois!

Aqui está o Sr. troca-cromos na sua banquinha improvisada ali, aos Restauradores.
Tome lá um  e dê cá dois
São as regras. E é para quem quer! 

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Cromos, Restauradores, Madame Meilland, Diktonius

No sábado fui aos quiosques dos Restauradores trocar uns cromos do Mundial 2010 que estavam em falta e enquanto esperava que a fila dos troca-cromos se esfumasse, aproveitei para me pesar nesta super balança amarela. 
Pesou-me com rapidez e deu-me um bilhetinho (menor do que o meu dedo indicador), onde me trata por V.Exa.,e  no qual me diz que a minha personalidade é a das rosas 'Madame Meilland'. Lá vinha uma pequena imagem dessa variedade de rosas (belíssimas, por sinal...)  fotografadas por um senhor chamado Camilo Franco (com créditos e tudo...). Além de me chamar rosa, o bilhetinho cita Diktonius, que diz: "Somente os pássaros domesticados anseiam, os bravos voam".
E lá fui ao quiosque trocar os cromos.
Continuam a faltar-me três! Alguém tem para a troca?

Vê-los passar

Numa outra ocasião, sentámo-nos num daqueles conjuntos de mesinhas e cadeiras que coxeiam e que estão à beira de estrada, onde se pode beber um refresco e ver pessoas com sacos de plástico, a passar. Dali  podem-se apreciar automóveis. Ouvir a sua maquinaria inteligente, uns para lá, outros para cá...

Nunca conduzi um automóvel, comentou Bristol, emocionada. E explicou-me detalhadamente o quanto detestaria ter de o fazer.
Mas sei bem que os automóveis não são todos iguais, disse ela, ao que acrescentou entre parênteses: (talvez até por isso...).  Nada mais ingénuo e desprevenido do que considerar que os automóveis são todos iguais!

sábado, 24 de julho de 2010

Mau hálito

A gramática é a alegria da vida, disse às tantas Emma Robinson. Disse-o em inglês, a sua língua mãe, e usou a entoação certa.
Sorrimos. Ela, um sorriso delicado, mas franco e seguro.

Emma podia ter dito: o vinho é a alegria da vida. Nada mais acertado.
Ao ouvir isto, teríamos olhado uma para a outra e aposto que teríamos rido com satisfação. Com uma enorme gargalhada, a lembrarmo-nos dos vinhos que já descobrimos juntas.
Mas o que Emma disse foi: a gramática é a alegria da vida.
E acrescentou :

Encontrar erros de gramática num bilhetinho de amor é tão desanimador como mau hálito.

terça-feira, 20 de julho de 2010

O que é 'a crise' ?

O sociólogo Laurent Mucchielli estuda a delinquência (urbana, sobretudo), partindo da desconstrução de ideias. Um dos seus alvos preferidos é a estatística. O que ele faz é descascar as estatísticas da delinquência: como são feitas, com que bases, quais as ideias, as premissas, quais os modos de ver que estão subjacentes. A partir desta exposição, constrói alvo novo, uma tentativa de compreensão, as bases para uma grelha de leitura. Sem vícios (ou o menos possível).

Depois de praticamente banida a visão política, apenas o raciocínio económico – omnipotente e omnipresente -, influencia a tomada de decisões, nas sociedades modernas. Isto é muito pobre e está longe de entender e explicar tudo. Os tempos difíceis que atravessamos foram e ainda são terreno fértil para a disseminação das ‘verdades’ da economia, mas também podem ser terreno fértil para a sua falência, basta vacilar nas respostas e soluções…
As ciências sociais podem ter aqui um papel muito interessante, precisamente o de desconstruir conceitos,  ideias dadas como adquiridas e muitas vezes vazias de sentido. Clarificar. Abrir outros caminhos. Obrigar-nos a repensar o que damos por conhecido.
O que é “a crise”?

domingo, 18 de julho de 2010

Pedrinha-coração (encontrei-a)

coração de leão


wild at heart,  wild at heart, wild at heart, wild at heart, wild at heart...

 


black is beautiful   :)     



 braveheart





lonely heart?
                 
                                                      no way



young at heart

hey little heart, how about a sunny jungle?