quinta-feira, 2 de junho de 2016

contar coisas

Cruzei-me com R. num evento de trabalho um pouco diferente. Não perguntei e fiquei a saber uma data de coisas: que tem uma maneira própria de trabalhar-; faz assim, assim é que é e orgulha-se disso. Contou coisas passadas e que lhe ficaram, por exemplo, esta cliente: -"R. acha que dá tempo para ir ao cabeleireiro, antes de ser atendida?  R. compreende estas pessoas muito bem, pois que vão arranjar.-se,  -  "sim, dá perfeitamente tempo", respondeu-lhe,  com uma certa afectação na voz, a denunciar uma familiaridade snob. Soa estranho tratarem-no assim, porque  no trabalho é tudo muito higiénico com os clientes.

Algumas colegas irritam-no muito, a Minnesota é uma delas, porque insiste com os clientes, "até ao vómito"!, como ele diz. Conheço-a, é uma de cabelos longos, como a Maria Magdalena.  R. deve odiá-la e digo isto porque ele estava a soletrar e reforçar as silabas, enquanto desfiava sobre ela.
R. fala sempre no mesmo tom, quase sussurra e mantém o mesmo semblante e costas direitas, diga o que disser. Surpreende-nos com um soufflé aveludado, mas antes de o servir, cuspiu-lhe.
Tenho de me esforçar para ler-lhe os lábios, porque está a contar estas coisas enquanto a apresentadora fala e eu não consigo dar atenção aos dois ao mesmo tempo. Evito mandá-lo calar.  Tenho sempre esta ideia que não devemos ser rudes com as pessoas que nos escolhem para contar as suas coisas.

o lodo da indecisão, com folha de Palmeira