quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Boa sorte, Cândida!

 É um dia como tantos a estas horas da manhã. A senhora do banco da frente já vai  no segundo telefonema e eu ainda agora me sentei. Era para dizer que já vai no combóio, que a greve já era! Antes tinha falado a alguém a quem desabafou a insatisfação com uma outra lá do trabalho, que «é convencida demais» e que «não tem postura». A do lado também está ao telefone e a de trás dá conta da vida: sim, a Bárbara vai bem, está na Faculdade, lá no trabalho o costume, essa tipa é sempre a mesma,  no Pingo Doce é mais em conta.  (Há pessoas que comem farinheira mal acordam e seguem lindamente, dia afora. Nem arrotos, nem nada!)
O combóio parou. A do lado, «hello» a olhar para o telefone.

Estou com vontade de telefonar a alguém!
A das queixas desligou e a outra: «a Cândida vai ser operada às varizes»!

domingo, 14 de outubro de 2012

domingo, 23 de setembro de 2012

Azul montanha

Comecei mesmo agora a ver o outro lado da montanha. Não é azul, antes azulado como o resto das montanhas. Faz muito frio e faz-me falta um casaco quente. Os do meu armário não não suficientes para descer esta montanha. Falta-me um que se mostre capaz disto.
Era o que faltava ficar-me na descida. 

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Abastecer

Um destes dias hei-de contar sobre o armário dos livros encarcerados: " quando muito admitiam que um livro repousa-se sobre os joelhos, ou sobre a mesinha, o que já era suficiente para que as pessoas se sentissem abastecidas com o necessário. "    

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Segunda-feira

Às segundas vou mudar o mundo, ou dar cabo dele.
Tende paciência com as segundas, porque estão grávidas, têm os seus caprichos e enjoos. E estar todas as semanas a engravidar não é para quem quer!

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

São pipocas

Por vezes quero dizer coisas e em vez disso saltam-me pipocas. Explodem na língua e saltam.
São pipocas, Senhores! São pipocas!

domingo, 19 de agosto de 2012

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

É um fato, quer dizer, facto!

certos livros só os consigo ler enquanto faço o pino. Vou passando as páginas com a ajuda do sopro, ou da língua, o que é uma porcaria bem sei, mas tenho as duas mãos ocupadas. Certos livros só com o cérebro deveras oxigenado.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Brevidade

Lorenz pratica com afinco a modalidade de breves silêncios. Antes fosse a de longas ausências!

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

as estações só existem fora de casa

Com esta idade, ainda não sei dizer qual a estação do ano de que mais gosto. Isto pode dizer muito de uma pessoa. Gosto das quatro como as conheço. São belas e à sua maneira todas conseguem ser insuportáveis. Não há ninguém que maldiga das chuvas de verão. Sabem tão bem. Há tempos ouvi maltratar a primavera, porque lhe despenteava os cabelos e pingava quando não se está à espera... O outono é doce, é a estação da marmelada e da geleia de marmelo, mas às vezes isso enjoa. Gosto da secura do verão, é difícil o verão e isso cheira bem, mas não imagino ninguém a escrever poesia ou filosofia no verão. Como são deliciosas as sombras do verão. O inverno sabe muito bem em duas ou três situações: logo no início e quando se está fora dele, ou o vemos passar à janela. Gosto da expressão 'os rigores do inverno' e parecendo o contrário, é uma estação muito calorosa. Custa-me um bocadinho grafá-la sem maiúscula, é a que mais me custa. Lembro-me de ir para a faculdade de gola alta e casaco e agora há ar condicionado em todo o lado.Quem se atreve a usar gola alta, fora das estepes da Mongólia? A verdade é que as estações quase só existem na rua. Vivem pelas ruas, sem abrigo, que é como deve ser, mas é uma perda não as deixarmos entrar pela casa, nem nas casas por onde andamos, nem nos carros ou nos transportes. Ficam à porta. Saímos da rua e mudamos para um ambiente que não é nada, porque não é o morno ou o fresco que fazem as estações. A temperatura é apenas o mote. Entra, verão, entra! Bebes alguma coisa? Quero que te sintas em tua casa!

música para ver o verão passar, sem conversas nem cumprimentos.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

para o que der e vier

Tenho uma singela colecção de imagens de senhoras que trajam 'piratas' - vox populi 'calças à rega milho'. É uma tendência forte em dois grupos de pessoas: a mulher portuguesa e a mulher turista. No geral, e porque no geral o geral é o que importa, ambas desconhecem o sentido da elegância e da graciosidade, mas são tu cá tu lá com o 'preparadas para o que der e vier': umas calças ligeiramente acima do tornozelo, para qualquer eventualidade. Em que tipo de eventualidade estarão a pensar? Inundações? fogos? matilhas em fúria?

terça-feira, 7 de agosto de 2012

tomar um pouco de sol

Dizem por aí que um destes dias o português falado no Brasil dará formalmente lugar uma nova língua. É algo inacreditavelmente inventivo e criativo o nascimento de uma nova língua a partir de uma outra que não é uma língua qualquer, mas uma mãe toda poderosa. À oralidade brasileira não lhe falta essa audácia, o tom desafiante de recriar a língua mãe, sempre que esta emperra e teima em não fluir. Em qualquer língua, a oralidade tem por natureza um espírito independente, mas a oralidade brasileira é a mais livre e autónoma de todas as oralidades, anda sozinha, cheia de coragem, a abrir caminhos por onde eles parecem mais cerrados e imutáveis. Sempre vários passos à frente da escrita.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Olhar para trás

Ainda te vais rir muito de tudo isto. Disto e da importância que lhe dás. mas eu ainda não comecei sequer a sorrir uma coisa levezinha.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

desabafo

Filha da Puta, sua grandecíssima filha da puta não passas de uma filha da puta disfarçada de outra coisa qualquer. Que partas uma perna e também o braço do mesmo lado, sua grandecíssima filha da puta abusadora e desrespeitadora. Ficaram-te restos de graxa escondida nas unhas, tens de as esfregar melhor, essa graxa barata é difícil de sair das unhas. Tresandas a graxa barata. Lava as mãos, grandecíssima.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Falta de ar

Castorp sobe, sobe, imparável, mais e cada vez mais alto. (pode ser doce uma subida assim). Já quase não tem ar para respirar e isto parece não ter um fim.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

mer, fo e c

Não consigo um bom relacionamento com palavrões. Na minha boca uma vulgar e singela  mer  fica grosseira, até parece um desavergonhado fo ou um avassalador  c que, a meu ver, é o supra sumo da batata de todos os palavrões. Tenho enorme dificuldade  em dizer c até quando estou sozinha, como agora. É que nem o consigo grafar, sai-me diferente do que tenho na cabeça, sinto-o excessivo,uma agressão, uma guerra mundial.
Conheço pessoas que usam e abusam de palavrões e aquilo flui, até com graciosidade como acontece com a Vi, toda a gente acha normal e no fim da conversa ninguém se lembra que ela disse uns valentes. Rio-me muito com isto.  Já em mim, toda a gente repara, aterram uns segundos de silêncio quando digo mer, que é o máximo que digo.  Por mais vontade que tenha de os soltar, parecem tirados a ferros, contra natura até e isso dá nas vistas, incomoda quem ouve e quem diz.

No dia a dia das conversas mundanas os palavrões abundam, mas são murchos, pobres em intenção e sentido, que é como são usados na maior parte das vezes. 

Entre os palavrões mais vulgares, fo é, naturalmente, o menos interessante, e não é por ser grosseiro, mas porque não inspira grande coisa, é um palavrão muito massacrado e gasto de tão usado e sem motivo. Metem-no pelo meio das outras palavras, vá-se lá saber porquê! Isto não é bom para a reputação do fo , porque o seu uso indistinto suja a língua de uns e os ouvidos de outros, pouco mais do que isso. Bem diferente é a sua música quando bem contextualizado: " -que se fo as contas da Zon e da EDP e da Águas e do seguro do carro e raio que os parta".  Ganha logo outra vida!

Já mer, embora corrente marca a sua presença marota e, sem parecer, até diz muito do que se quer dizer sem querer. Mesmo quando aparece ligeira, despercebida e sem maldades, que é o que acontece na maior parte das ocorrências. Todo o povo aprecia palavrões e vice versa, mas o mais acarinhado é mer: do mais novo, ao mais velho, do instruído ou ignorante, rico ou remediado, ninguém lhe escapa.

O mais genuíno de todos os palavrões é c. Nenhuma camuflagem lhe serve. Tenho pena quando as pessoas o utilizam em vão, por exemplo: - " estava p'rali a falar e o c ...",  é desnecessário, cai em saco roto, apesar do rasto que deixa. Um rasto áspero, às vezes amargo! 
Quando devidamente utilizado c tem uma força brutal, eu até estremeço quando ouço, fico embaraçada, - ouvi bem? disse mesmo c? é preciso coragem! C nunca é totalmente inócuo. Isso explica bastante do seu poder.
A mim, incomoda-me sempre, mas nem por isso no sentido negativo, é um misto de desagrado e enorme respeito. À entrada do metro dos Restauradores grafitaram umas coisas, entre as quais está isto: " Austeridade o c " . É um grito poderoso, é aquilo mesmo e não é outra coisa.Estava a tentar explicar isso lá no trabalho, mas não o consigo reproduzir... Isto explica muito da sua força!

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Números

-Não há razão para te enganares neste problema.
- São números a mais, ainda me baralho com tantos...
- Os da janela?
- Não, os que estão à varanda!

amiga facebooker ?

Não gosto que me tratem por 'amiga facebooker' . Tem um som desagradável.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Saber não dizer

Ele sabe bem como dizer as coisas, já a Maria Luísa sabe melhor do que ninguém como não as dizer.
Sabe muito bem não dizer as coisas.
Haverá quem saiba tão bem não dizer as coisas, como a Maria Luísa? Sabe não dizê-las sem esforço e em diversas línguas, vivas e mortas.

domingo, 8 de janeiro de 2012

A mania de procurar o coração das coisas

 Não é fácil dar com o coração das coisas, mesmo para quem já leva muita experiência nisto. Posso dizer que o coração do nosso Inverno está em Janeiro, o da Vi bate nas suas mãos é um coração que vive entre os dedos e a palma das mãos, mas demorei muito tempo a dar com o meu e perco-o de vista a toda a hora. O coração pode bater fora do corpo que habita e isso não é necessariamente mau. Só é preciso que não nos afastemos muito.