quinta-feira, 19 de agosto de 2010

AA - Anonimar por aí

Não, nada a ver com o texto
 Dizem-me que os anónimos são todos desprezíveis, uma corja de canalhas e cobardes. Pois eu digo: não é verdade! Há uns e há os outros. De uns, felizmente percebo pouco ou nada, de forma que estou tentada a falar dos outros.
Por exemplo:
-os que gostam de não dizer coisa com coisa;
-os embaraçados;
-os inteligentes e sensíveis que, por pura amizade ou consideração, não querem criar problemas desnecessários, mas gostam de opinar;
-os que dão erros ortográficos;
-os que estão apaixonados pela pessoa errada, mas querem estar por perto;
-os que preenchem as caixas de comentários;
-os que vagueiam pela net e fazem companhia a tanta gente e aos próprios;
enfim… há tantas e nobres razões para se ser ‘Anónimo’.

Há que ter em conta que, na net, o ‘Anónimo’ conquistou uma certa espessura enquanto sujeito e isso retirou-o daquela dimensão meia vaga e gasosa em que se movia, fora dela. Antes, era mais ‘uma situação’
(por exemplo: um telefonema anónimo, uma queixa anónima, etc) e agora transformou-se num sujeito, a quem, inclusive, foi atribuída uma designação: “Anónimo”. E exibe-se orgulhosamente em quase todas as aplicações, com direitos idênticos aos da Isabel, do António, ou do Vítor Manuel. Online não há discriminações e isto - tendemos a esquecer -, é um bem inestimável. Se o sujeito Anónimo/a é respeitoso, bem humorado e não dá secas, como recusar uma boa conversa?

O problema disto é a velha estória do sistema que criou um monstro, que por sua vez tomou conta do sistema. Não há rosas sem espinhos, já se sabe. Torna-se tão fácil e apetecível escolher-se: ‘Anónimo’, que facilmente podemos cair em tentação, e voltar a cair, e voltar… Como sair disto? É que, inventarmo-nos pode ser muito viciante, mas descobrirmo-nos e deixarmo-nos ir, também.
Como abandonar este circo vicioso?

Talvez uma associação de apoio aos “Anónimos Anónimos”. 
"Boa tarde, eu sou 'Anónimo' e ontem anonimei..."

sábado, 14 de agosto de 2010

O segundo banho no mar

Estou regressada de uma tarde de banhos de mar. Sou a mesma pessoa, mas com novas células. 
Melhor do que um banho no mar, só mesmo o segundo banho no mar. Todos os que se seguem são igualmente deliciosos, mas nada se compara ao segundo banho no mar, quando já sabemos o que nos espera porque já nos tocámos e está a pele preparada, já seca, a querer muito entrar outra vez no mar, para se refrescar. É a segunda vez, mas é uma surpresa.
Dantes pensava que somente os ébrios entravam no mar na madrugada do 1º dia do ano. É um engano. Muitas das pessoas que o fazem estão bem lúcidas. Querem sentir o vigor do mar, aquela força. Eu nunca experimentei, mas sempre que entro no mar lembro-me disso e entendo lindamente. Principalmente quando entro já com a pele ressequida, da segunda vez.

No rio é diferente. 
Ninguém vai ao rio tomar um banho revigorante no 1º dia do ano.
Adoro rios, o barulho que fazem a passar nas pedrinhas, os limos, as correntes, as quedas. (Mas entro com algum receio, é escuro).
Um banho de rio é apaziguador. Não é só por se poder beber,que se diz "água doce". Há ali uma doçura na maneira como a pele escorrega. No primeiro, ou no segundo banho. Tanto faz.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

ohhh, so lovely !!

A calçada portuguesa é 'so lovely' , mas não para quem anda a martelar paralelipípedos desengonçados e a encaixá-los como pode, debaixo de 40º à sombra. A isso chama-se trabalho escravo. É isso que é a calçada portuguesa, vestígios vivos de trabalho escravo. Já há muitos pavimentos que imitam bem a calçada e que podem  muito bem ser utilizados nas avenidas. Mas não! Não se pode perder a tradição! Martelem, escravos. Pedra a pedra, que é tão bonito de ver!

 
E que belas caminhadas se fazem por este belo empedrado medieval. Além de trabalho escravo, é vergonhosamente desleixado. Todas as cidades e vilas com a 'so lovely' calçada portuguesa têm aspecto sujo ( são raras as excepções e agora, de repente, não me lembro de nenhuma). Não deve ser simples de limpar, presumo.
Na zona histórica de Cascais, onde vivo, quase só existe calçada portuguesa. Suja, torta, esburacada, desmazelada. Trabalho escravo, pedra a pedra.
'So lovely'!

So lovely


What can i say, ohhh! So lovely!






... not only lovely, but extremely charming too

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A Volta

Certa ocasião o P. ofereceu-me um dvd onde gravou horas de "A Volta a Portugal em Bicicleta". Não era um resumo, mas “a versão quase integral das melhores etapas”, garantiu-me. Foi nos tempos em que a RTP2 ainda fazia longos directos das melhores etapas comentadas por uns senhores, não sei se todos jornalistas, mas todos com um tom de voz estupendamente monocórdico e com um palavreado muito técnico e prof.. Dezenas de bicicletas a deslizar umas atrás das outras e um coro a repetir as mesmas coisas numa cadência rolada, influenciada pelo próprio pelotão. Um mimo!


Cada um só pode (deve) falar da sua experiência e eu experimentei ali, naquele bendito dvd da Volta, um portentoso soporífero, que aniquilou as minhas abusadoras insónias de Verão que me torturavam e, por arrasto, consumiam ainda mais o P.
Um achado, o bendito dvd!

É bem de ver que, para mim, a Volta a Portugal em Bicicleta ganhou um interesse especial, nasceu um certo carinho, que não se deve apenas ao sono, devo dizê-lo. É preciso ver que há ali uma dureza, um desafio aos limites físicos que chega a  fascinar. Qual futebol, qual boxe… 40º à sombra e aquela rapaziada a atravessar o país sem largar o pedal. Chegar à meta, em cada etapa, e logo um enxame de gente a sufocá-los com palmadas nas costas e a fazer perguntas. E eles a aguentarem-se, rijos! Gosto dos palanques improvisados e das meninas pouco vestidas que agarram os camisola-amarela e chuuac, com muito suor! Gosto dos capacetes aerodinâmicos e dos raminhos de flores mal arranjados.
Parecem rebentar naquela roupa colante. Mas festejam, felizes, os camisola-amarela.

Nem sei bem explicar isto, mas sempre achei que o ‘folclore’ da Volta tem uma estética muito ibérica.

Voltaram as noites quentes de Agosto e eu tentei ver uns resumos da Volta que passam na TV.  Mas está tudo muito diferente, mais acelerado, novo palavreado, muita net!-  "Nã... isto não é para mim" - comentei com o P.- ,  vou é procurar o meu dvd.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Bichinhos de conta

Há dias vomitei à saída da tua casa. Deves ter reparado, e não te deve ter sido nada difícil perceber que fui eu. Devia ter-te dito, mas na verdade não aconteceu nada de original, passei inadvertidamente por tua casa e encontrei aquele bichinho de conta. Foi só.
É certo que eu já o conhecia por ali, mas sempre o ignorei: quando queremos muito, muito... não é um bichinho de conta que nos assusta.
Até ao dia em que aconteceu o inesperado, uma repulsa. Consegui sentir-lhe o cheiro desagradável ( até tinha ideia que estes bichinhos não tinham cheiro), aquele andar dissimulado, fingido que se enrola, assustadiço quando nos aproximamos  ( atento às fragilidades e a querer atenções).
O meu estômago reagiu antes de mim. O meu estômago não o suporta. E isso é um alívio!

terça-feira, 3 de agosto de 2010

miminhos para 'inglês' ver

Um post, ou direi nota, universal. Aqui, com o toque original do duplo sublinhado e em versão bilíngue e aumentada, porque cada um tem os miminhos (e espinhos) que merece.
Disse "Imediatly"? 

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Não é à toa que se chamam gralhas, Paulina Dias

Os escritos da Paulina Dias têm gralhas. Nunca mais do que uma por escrito. O quanto baste.
Paulina fá-lo de propósito, pois gosta de brincar com a língua.

Alguém já disse baixinho que é um tipo específico de dislexia "e até se pode tratar". Outros, maldosamente, insinuam "excessos e até desconsiderações de língua".
Não vou comentar.

Os escritos da Paulina Dias devem ser lidos sem negligências. Dá trabalho. Custa. Ela até graceja: "Não falta quem escreva, o pior é ler!" Mas isso é ela a brincar, porque a verdade é outra, bem mais dura e exigente: horas e horas de trabalho a dedilhar no teclado, ensinar os dedos, treiná-los um por um a deslocar uma letra aqui, acrescentar ali, eliminar mais à frente.  Ops, gralha!  Automatismos que escapam à vista e ao entendimento da própria Paulina. Uma gralha no local certo e logo os leitores num mar de dúvidas: "será isto, será aquilo, o que quer dizer?..." Não lhe perguntem porque ela também não sabe. E os dedos não esclarecem.
(quem lê é que se trama. Sempre).
Paulina tem a língua portuguesa na ponta dos dedos. Literalmente! Ensinou-lhes tudo o que havia a ensinar e não tem mão neles. É isso que verdadeiramente mexe com ela.