domingo, 9 de outubro de 2016

apenas pontos

Reconheci-a logo por causa do chapéu verde folha com fita de cetim. Despedimo-nos na estação e eu fiquei a vê-la desaparecer à medida que o comboio se afastava mais e mais. Era apenas um ponto lá ao fundo, do tamanho das maiores casas e até da torre da igreja de Burgess Hill.  Um ponto igual a tantos pontos, que também desapareceram.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Figos no final do Verão

Comemos um figo. É doce como mel. Um figo de cor verde, redondo e pequenino e queremos logo outro, para prolongar o sabor doce que ainda está do primeiro. Um só nunca chega. Do segundo figo não se pode dizer que seja azedo, é apenas sensaborão e deixa-nos desapontados. Estávamos à espera de outra coisa.
Mas a "A Nossa Necessidade de Consolo é Impossível de Satisfazer" e vamos ao terceiro, que se revela outra vez doce. Não tão doce quanto o primeiro! É meio-meio! O suficiente para  conseguir relançar as expectativas e devolver a esperança à humanidade: a doçura, afinal, ainda não acabou! Quem sabe o próximo é o mais doce?

terça-feira, 5 de julho de 2016

Verão

Gosto do Verão.
Foi no Verão que descobri a imensa facilidade que tenho para encher a garrafa com água. Sem ajuda de funil, quero dizer. Do garrafão de 5Lts para a garrafa, em fio, direto, a olho! Não é para todos. Os filhos herdaram-me a especialidade e fazem igual. Gosto tanto! 

quinta-feira, 2 de junho de 2016

contar coisas

Cruzei-me com R. num evento de trabalho um pouco diferente. Não perguntei e fiquei a saber uma data de coisas: que tem uma maneira própria de trabalhar-; faz assim, assim é que é e orgulha-se disso. Contou coisas passadas e que lhe ficaram, por exemplo, esta cliente: -"R. acha que dá tempo para ir ao cabeleireiro, antes de ser atendida?  R. compreende estas pessoas muito bem, pois que vão arranjar.-se,  -  "sim, dá perfeitamente tempo", respondeu-lhe,  com uma certa afectação na voz, a denunciar uma familiaridade snob. Soa estranho tratarem-no assim, porque  no trabalho é tudo muito higiénico com os clientes.

Algumas colegas irritam-no muito, a Minnesota é uma delas, porque insiste com os clientes, "até ao vómito"!, como ele diz. Conheço-a, é uma de cabelos longos, como a Maria Magdalena.  R. deve odiá-la e digo isto porque ele estava a soletrar e reforçar as silabas, enquanto desfiava sobre ela.
R. fala sempre no mesmo tom, quase sussurra e mantém o mesmo semblante e costas direitas, diga o que disser. Surpreende-nos com um soufflé aveludado, mas antes de o servir, cuspiu-lhe.
Tenho de me esforçar para ler-lhe os lábios, porque está a contar estas coisas enquanto a apresentadora fala e eu não consigo dar atenção aos dois ao mesmo tempo. Evito mandá-lo calar.  Tenho sempre esta ideia que não devemos ser rudes com as pessoas que nos escolhem para contar as suas coisas.

o lodo da indecisão, com folha de Palmeira


terça-feira, 31 de maio de 2016

picar o ponto

A indecisão é um dos traços mais irritantes em Norma. Quando chegou à fila , já levava apenas Berlin na mão, depois de 45m de vida mergulhados no lodo da indecisão, mas é certo e sabido que a Norma, até ao último momento podia ainda ter mudado de ideias. É pessoa para esperar na fila , pagar e voltar atrás para trocar e ficar a decidir por mais um tanto: Salter? Ferrante? Ove? Berlin? Desta vez isso não aconteceu. Saiu a correr, porque já ia tarde para picar o ponto no trabalho.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

é o que terás

 É o que tens para lhe dar.  

Pérolas

ele disse - gosto de ti como da primeira vez! e enrolou o último crepe mole no que sobrou do cebolinho e do pato. Pincelou de vermelho espesso e engoliu, evitando o olhar dela, ainda esfomeado.

animais.

Levou-a a um chinês porco. Comeram pato à Pequim para comemorar o ano do macaco.