sexta-feira, 29 de outubro de 2010

es+ventre+ar

Simpatizo com figos esventrados. Mais ainda se for eu a esventrá-los, quando se aproxima o momento de ir fazer alguma coisa verdadeiramente importante e difícil, até. Já os esventrei, agora vou-me!

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

mais Net

  É muito mais fácil e credível, até, dizer que não recebi uma sms, arranjar uma boa desculpa para recusar uma chamada no telemóvel (e mandá-la para o espaço), ou até extraviar uma carta (se isso ainda existir), do que evitar um contacto na net. Eu acho isto contranatura. É no que dá tanta obsessão com a seriedade e a credibilidade na net.  bullshit.

Sem fim

Um dos ingredientes mais excitantes da Internet é aquela sensação de imensidão e de inesgotáveis possibilidades. Falsa? Pode ser, em parte.  Mas é o princípio de tudo. É o impulso.  

Jane Austen's Fight Club

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

ainda as máquinas...

"Lucas permaneceu imóvel junto à máquina, se bem que fossem horas de ir para casa. A máquina tinha o aspecto de sempre, correia e alavancas, roda dentada.
-Quem precisa de temer a fusão? - disse Lucas.
Mas ele tinha medo. Temia a persistência da máquina, a sua capacidade para estar ali, sempre ali, e a sua própria obrigação de regressar a ela depois de um breve intervalo para comer e dormir. Um dia voltaria a perder-se nos seus pensamentos, e seria arrastado para dentro da máquina, tal como Simon. O seu corpo seria estampado (quatro à largura, seis ao comprimento), e expelido; seria metido num caixão e transportado para a outra margem do rio, de tal modo desfigurado que ninguém o reconheceria, nem os vivos, nem os mortos".

in "Dias Exemplares" , p. 45
Michael Cunningham 
tradução de Rui Pires Cabral
Gradiva

Um certo charme

 
 ... 'certo' no sentido de particular. Especial. Singular.
Aleluia!
Ainda por cima com um olho de cada cor
:)

domingo, 24 de outubro de 2010

Máquinas e homens

Como é possível uma máquina devorar um homem? Levar-lhe os dedos, ou um braço? Esmagá-lo, até? E depois dele, vir outro homem e  continuar, como se nada fosse (com pensamentos de mais cuidado e respeito pela máquina).Há máquinas que só param quando bem entendem. Entretanto, estão só à espera de uma breve desatenção, um deslize de nada. É do que precisam.
Quando penso no amor que é obsessivo e sem fim, penso logo nas máquinas e nos homens. Na repetição. Nos movimentos repetidos e obstinados, (que é de onde nascem os resultados. Alegrias). 

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Saber receber

Há países e cidades com uma enorme vocação para receber. E não é só por mero interesse, ou porque dispõem de estabilidade social e política. Vai muito das suas gentes, que se habituaram a ter e conviver com os de fora, com naturalidade. Nem sempre sem animosidade.
Receber os outros é uma enorme e inestimável qualidade mas, por razões diversas (entre as quais uma desconfiança e tacanhez também fruto dos condicionalismos geográficos), muitos povos não a desenvolveram. Nós. Nós, que andámos a cravar quinas em todos os cantos do mundo e a ser recebidos um pouco por todo o lado para fugir à pobreza extrema, ou às perseguições e à asfixia da ditadura, não estivemos à altura de receber os nossos, os da pátria, que fugiram de uma guerra, em 75. Recebemos, que remédio, mas com hostilidade e com inveja, até. Isso diz muito de nós.
Temos a casinha aberta é certo, mas se não vierem...
Quem recebe bem, recebe sempre da mesma maneira.
Nos últimos anos, temos feito um esforço para conviver com os de fora, estamos a aprender, mas isso não nos dá entrada no restrito círculo dos países e cidades que sabem receber. Na fila, a anos luz de nós ainda estão Amesterdão, Berlim, ou até Barcelona. Imagine-se!  
Na Europa, os países com mais longa e mais forte tradição de receber de braços abertos e em doses massivas são a França e a Inglaterra. Eu acho mais correcto dizer: Paris e Londres. 
Nova Iorque não fez mais do que imitar o que, noutros tempos, fizeram Paris e Londres. Duas cidades grandiosas, que durante décadas receberam, receberam e receberam (é injusto não nos lembrarmos disto agora, nos momentos menos bons).
Hoje, não se entra nestas cidades com a mesma facilidade. Há muros e arame farpado. Há expulsões. Há medo. Falta emprego. Há uma sangria de conflitos e tensões sociais acumuladas.
Nada mais vai ser igual.
Isto não faz delas cidades mais xenófobas do que Lisboa.

(Acho excessiva e até absurda a ideia do colapso do multiculturalismo, como defende Angela Merkel, mas acho corajoso levantar a questão e obrigar-nos a pensar nisso).

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Isto sim, é 'Breakfast at Tyfffany´s'

Entre a Mag e a Holly:

-Se eu me conseguisse habituar à ideia de me casar com um brasileiro... e de ser também uma b-b-brasileira (...)
-Inscreve-te numa escola de línguas.
- Por que raio haviam eles de ensinar português?  Não, só tenho uma hipótese, que é tentar tirar a política da cabeça do José e fazer dele um americano. Que aspiração tão inútil para um homem, ser p-p-p-presidente do Brasil. 
Suspirou e pegou no tricô.
- Devo estar loucamente apaixonada. Tu viste-nos juntos. Achas que estou loucamente apaixonada?
- Bem, ele morde?
Mag falhou uma malha.
- Se morde?
- Se te morde. Na cama.
- Ora, não. Porquê, devia? 
E acrescentou com um tom de censura:  - Mas ri-se.
- Boa. É assim mesmo. Gosto de um homem com humor, a maioria deles só arquejam e suspiram.

domingo, 17 de outubro de 2010

Um livro semi-exacto

Antes de entrar em "Dias Exemplares" tropecei numa nota onde o autor, Michael Cunningham, explica que o livro é "semi-exacto".
O que é exactamente, um livro 'semi-exacto", Michael?
Resposta: "mistura ficção com realidade" !

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Importar, de importância

É errado maldizer do companheirismo entre dor e alegria (nesta ordem). É uma aliança prodigiosa, pois dela depende, em boa medida, a nossa salvação (que o digam os que 'vivem' no Iraque);
Tem que haver sempre mais alguém, alguém que se importe (que o digam os mineiros do Chile).

No Chile

Quantas vezes a dor e a alegria (felicidade) não andam lado a lado.
Estão bem juntas em São José.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

De como as aparências podem iludir, mesmo tratando-se de aves


Consultei algumas personalidades aqui da vila sobre a algazarra que as gaivotas fazem por volta cinco da manhã, em alguns períodos do ano. Com, ou sem tempestade no mar. Na verdade, na maior parte das vezes, sem motivo aparente.
Puxei conversa desinteressadamente entre bom dia, boa tarde e sem dar a entender o que verdadeiramente penso sobre as gaivotas e o barulho que fazem, o destino que lhes desejo e o fim que lhes daria, se tivesse essa faculdade...
 Eles:
1) que é da "porcaria da marina que pr’ali construíram e dos barcos que as expulsaram!!! ( o Sr. Manuel, da mercearia);
2) que é da falta de peixe no mar, que as obriga a procurar alimentos em terra !!! (a Sr.ª que me vende peixe, no mercado);
3) que andam perdidas e intoxicadas, por causa da poluição!!! (o Sr. do quiosque).
Nada do que ouvi me convenceu e, na verdade, fiquei um pouco surpreendida com a falta de lucidez das explicações, mas também com a ligeireza com que me responderam, dando ideia que sim, ouvem o barulho, mas nada de extraordinário! Afinal, trata-se de um bando de aves a guinchar descontroladamente a partir das cinco da manhã!

Na verdade, eu tenho as minhas suspeitas sobre o assunto (temos sempre) mas…  
Estava convencida que alguém me fosse dizer, “são umas desavergonhadas, piores que os coelhos”, ao que eu responderia logo: ” sim, de facto, é o que parece, embora excessivamente entusiasmadas, para aves...”. Mas como ninguém aludiu sequer a tal (e tratando-se de gente que conhece os hábitos e costumes das gaivotas), escusei-me a entrar por aí. Não fossem começar com olhares esquisitos. 

Enfim!
Alguém se encantou um dia com um bando de gaivotas em voo e vislumbrou ali uma ideia de liberdade, que muitos outros foram confirmando e afirmando ( nada de politiquices se faz favor). Já eu, oiço um bando delas a guinchar tresloucadas em alta voz, madrugada após madrugada, e se alguém me disser que existem aves no inferno, eu asseguro que só podem ser gaivotas.
 Acho que “tudo se resume a bons e a maus encontros” , como diz a velha máxima de Spinoza.
Eu e as gaivotas não temos bons encontros! E como gosto muito de viver por aqui, terão de ir guinchar assim para outras paragens. 
 
(amanhã de madrugada informo-as). 


quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O sorriso de Vargas Lhosa


Interessa muito pouco conhecer a fisionomia de quem escreve os livros. Gosto de a tentar imaginar, à medida que leio. (não é fácil porque, à excepção do Coetzee e da Gabriela Llansol, toda a gente aparece em grande, nas fotos de contra-capa).
Conhecia muito vagamente a figura de Mario Vargas Lhosa, quando comecei a lê-lo. Uma edição de "Conversa na Catedral" (sem foto), deu-me o mote para ir construindo uma fisionomia que, confirmei depois, estava longe do original. É um exercício surpreendente e curioso.
Gosto do sorriso franco e largo do Mario Vargas Lhosa, nesta foto.
Imagino-o assim, ao saber do Nobel.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

República I

Não deixa de ser sintomático do elevado estádio civilizacional da pátria e até do profundo e comovente humanismo que caracteriza as suas gentes, que a comemoração dos 100 anos da proclamação da República, por esse Portugal fora, seja, em grande parte, alegremente animada pela reconstituição de um momento negro e ignóbil da história de qualquer país: a morte (assassínio) de dois homens.
A barbárie pode ter muitos rostos. Geralmente, aparecem em magote e trazem as melhores das intenções.

República II

 Não sair do sítio, cansa. Pode até matar!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Pode ser

-Pode dizer-se que seja um coração grosseiro?
-Não, que brutalidade! Não é aceitável, sequer.
-Mas é tão pigmentado e cheio!
-Creio que pode ser um coração farto, mas não é nada comum.