domingo, 28 de fevereiro de 2010

Who´s to blame?




Não há gente simpática por ali. E o tema está longe de ser a alegria de viver!
A câmara não se move e nós, estáticos, o que ouvimos é uma troca de palavras secas numa atmosfera carregada pelo preto e branco. A cena é relativamente curta e os homens, dois, depois três, não querem outra coisa senão saber porque lhes tiram as casas e as terras que cultivam. Ford filma-os em contra-plongê , aumenta-lhes a rudeza dos traços e os semblantes duros de quem sabe que não vai obter respostas. Um destes, dirige-se ao bem vestido que, de dentro do automóvel largou as más notícias e já em desespero, pergunta-lhe: Who´s to blame then? Who´s to blame?

Na América devastada, de 1930, como agora, aqui e um pouco por todo o lado: Who´s to blame?

“The Grapes of Wrath” é tão actual. Tão dramaticamente actual!

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Não há como os russos, ah isso não!

Não há como os russos para nos golpearem o estômago. Andam ali às voltas, parece tudo inofensivo, mas é o tanas! Se é sobre o espírito humano, está lá tudo.


Ivan Ilitch, por exemplo. Vivemos-lhe a doença... tudo à volta, sem sombra de uma ocorrência brutal. É sobre a morte ou, pelo contrário, nega a morte?
 "Ivan Ilitch sabia que estava a morrer, mas não estava habituado a isso", escreve Tolstoi.
Lembrava-se com frequência daquele exemplo de silogismo que tinha aprendido na lógica de Kizevetter: "Caio é homem, os homens são mortais, portanto Caio é mortal", contudo, isso pareceu-lhe em toda a sua vida justo apenas em relação a Caio!
 

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

É consoante, é o que é!

É cada dia sua ideia!
Irra!
Agora isto, amanhã diferente...

Não te aborreças com isso Vi,
cada um é como é, e já se sabe que o Matheus é ... consoante muda!

Sós

Ufff, enfim sós!
a sós?

J´aime bien les fraises

"The Wedding Dress"

Pode a mesma história ser repetida e recontada, vezes e vezes e ser sempre, sempre diferente?


“The Wedding Dress” é, antes de mais, uma promessa. Um compromisso de eternidade que, nas telas,  se cristaliza em instantes de paixão, sedução, prazer, mas também dor, angústia, vazio.
Um ir e vir!
Um ir e não voltar…
Há uma infinidade de momentos e instantes que conhecemos sobretudo pelo que nos é contado pelas muitas mulheres que habitam as telas, e pelos despojos que vão ficando, de cada instante, cada promessa!

A mesma história. Sempre, sempre, histórias diferentes!

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

(n)um instante

Foi um instante.
Naquele instante, no preciso instante,
é difícil dizer quanto durou,
muito ou pouco...
maior, menor,
um instante é o que é,
e nem sempre é num instante!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

e o paraíso no teu olhar...

Lauro:

- Só hoje de manhã reparei que a Maria de Deus é estrábica!
Estrábica!
Tinha-a perfeita.
Que aborrecimento! que chatice, quero dizer!
Sinto um mal estar...
Já não é a mesma coisa olhar para ela, ah isso nunca...
Como é possível, ainda ontem a vi tão de perto, olhos nos olhos (até a beijá-la)!
              um olhar lindo, doce...
e hoje dou com este desencontro: um olho para cada lado!
Estrábica, quem diria!

Embora!

Diz lá outra vez Palma, é a última vá lá, vá lá, juro!:

chegaste com três viténs
e o ar de quem não tem muito mais a perder
...
mandaste a minha solidão embora,
mostrei-te a origem do bem e o reverso
...
sei que essencialmente isso se deve a esse passo inseguro
 e ao paraíso no teu olhar
...

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Amor (II)

Glopeei o antebraço quando tentava arrancar um ramo da japoneira.
Insisti!
Sangue morno a misturar-se com o verde largo e carnudo das folhas da japoneira.
Insisti!

O único interesse de Janeiro são as japoneiras em flor!

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Que tempos, estes!


Estas bochechas eram minhas?
Usava aquelas pérolas???
E o chapéu???   
E ia para a redacção nestes propósitos?
tsss... tsss... 

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Must you go?

A ler excertos do diário-biografia de Antonia Fraser sobre os dias que viveu com Harold Pinter.

Página a página, Fraser fala como se Pinter estivesse ali, na sala ao lado. E fosse entrar, a qualquer momento, descontraído, a dizer: - Olá, querida!

Conta-se ( ela e todos os que os rodeiam), que esta incrível história de amor terá começado com um improvável e descabido , - "Must you go?", que Harold dirigiu a Antonia, no final de uma festa, enquanto cordialmente se despediam. Acabadinho de a conhecer! Casada com o deputado conservador Hugh Fraser, mãe de seis filhos, a circunspecta Antonia respondeu que não. Não tinha mesmo de ir!

Antonia Fraser e Harold Pinter viveram juntos entre 1980 e 2008 , ano em que Pinter morreu.

Em 2007, já doente, Harold escreveu a Antonia: “Vou ter tantas saudades tuas quando morrer”.
“Must you go?”, perguntou-lhe ela, em 2008.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Entre a Deus e a Mar

Contou-me a Maria de Deus e, por isso, é verdade:

A previsível, monótona e acomodada da Maria do Mar anda a tentar fechar uma porta a que inadvertidamente bateu!

(lembraste Deus, quando faziamos o percurso todo, do Liceu de Oeiras até casa, a tocar às campaínhas e a fugir?)

Alegoria da Caverna

Portanto, se alguém o forçasse a olhar para a própria luz, doer-lhe-iam os olhos e voltar-se-ia, para buscar refúgio junto dos objectos para os quais podia olhar, e julgaria ainda que estes eram na verdade mais nítidos do que os que lhe mostravam?

"Equilíbrio"


Amor (I)

Não é fácil conservar a frescura do basílico, mas Júlia consegue-o, como ninguém. Usa um gesto treinado e preciso para sacudir os raminhos, um a um. Separadas delicadamente as folhas, liberta-se o aroma...
Não lhes toca! Nem cheira ostensivamente, como muitos fazem.
O basílico é da família do mangerico. Ambos vivem sob ameaça de morte súbita!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Raridades

A Vi já tinha ficado banzada com os cuspidores de fogo que viu, certa vez, em Ankara!
Depois disso, ainda conheceu, em Goa, uma criatura que caminhava sobre pregos e vidros e se deitava plácido, sobre chapa incandescente.  E uma outra que revirava uma lâmina na língua, enquanto choramingava canções de amor, pelas ruelas escuras de Djémila, na Argélia.

E os espantosos engolidores de peixe cru?
já viste algum, Vi?

Um dia não são dias

Segunda-feira :
...manhã, tarde, sexta-feira ou domingo, cedo, menos cedo, escuro, claro ... (manhã!)

Terça-feira:
é assim, mesmo. Paciência! Aguenta!
- Desculpe, mas não é permitido sentar-se!

Quarta-feira:
chove menos... quase não chove, será que chove?
(sim, chove!)

Quinta-feira:
vira-te, visto-te o impermeável! A Vi está assim por causa do Alfredo! Não há dia que não se vejam, mas desencontraram-se, já lá vão uns anos

Sexta-feira:
diospiros já não há, menina, acabaram-se em Janeiro. Leve laranjas!
(parvo!) (sabem ao mesmo, é?)

Sábado e Domingo (gémeos)
sonhei que inventava recordações (toda a gente o faz) e que rasgava a carne a coçar-me, derivado da urticária!


Segunda-feira:
manhã, tarde, sexta-feira ou domin
...

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Erótico, vem de erro!

A Bovary criada por Agustina para ´Vale Abraão´, tem um desnível numa perna. Daí o ligeiro coxear:
TAC, tac, TAC, tac, TAC, tac... quase imperceptível.
Sente-se, mais do que se vê, ou ouve!

Belíssima, Emma tenta, a todo o custo, dissimular o defeito. Fala alto, disfarça, ri. Muito mais do que a conta.
Em vão!
Há qualquer coisa (desgovernada) naquele andar defeituoso...


"É o erro que é erótico, não a beleza", escreve Agustina Bessa Luís.
Sabe o que diz.
Pois se foi ela quem inventou tudo isto!

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Desaparecer

A propósito da morte de J.D.Salinger (por estes dias), retornei ao Dr.Pasavento - um clássico, entre as minhas fixações- .
Ambos recusam obstinadamente a ideia de qualquer reconhecimento por via das suas obras mas, ao contrário de Salinger que, sem nunca ter abdicado do direito de não ser famoso, optou por uma vida recolhida, Pasavento tem a obsessão do próprio desaparecimento e da obra que produz.
O desvanecimento da sua escrita seria também o seu, convence-se, a dada altura.
Exercita nova caligrafia, reduzindo drasticamente o corpo da letra e substitui a impressão  forte da caneta pela leveza da marca do carvão. Desaprende o encaixe dos dedos, soltando ligeiramente o lápis enquanto escreve. Quer dizer, enquanto...  já não escreve!



( À parte:  )
Não, isto não é 'piretecnia'

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

pode ser um canto de sereia...
alindada vens dar-me o arroz....
é arroz integral...
infernal...
é pó...