quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Como um romance

Uma das particularidades que mais fascina no trabalho de  Mario Bellatin é a maneira corajosa e até arrojada, como os seus livros misturam géneros, desobedecendo a formatações e transgredindo toda e qualquer regra de prateleira, classificação de livros e literatura. São livros que se desviam. Sendo que a procura de outros caminhos, passa muitas vezes por explorar os  limites da própria literatura. Isto dá trabalho, claro. Tinha a vida facilitada se, ao invés, se sentasse em frente ao portátil a escrever um romance. Mas já há tantos romances...
Numa altura em que o romance, enquanto género, canibaliza descaradamente outros géneros literários, fazem falta mais Bellatins. Muitos mais. 

Desconfio que, mais do que um sinal de vida, ver as livrarias inundadas de gordos romances é um sintoma inequívoco de um modelo em 'gloriosa' decadência.
Não é exagero dizer que este é o género que mais tem feito pela leitura -- pela massificação dos livros, da literatura, da leitura  em geral --  .  O romance expandiu a 'leitura' e esta tem alimentado a voracidade do romance. Mas isto acabou por desvirtuar o seu modelo clássico e original.
Não deixa de ser irónico que aquele seu papel, tão relevante, tenha acabado por se transformar no seu maior carrasco: o romance engordou demasiado à custa da exigência da 'leitura', perdeu frescura e agilidade.  A sua postura alarve e 'imperial' tem provocado o esvaziamento de outros géneros e isso martiriza o seu modelo, ainda mais. A expressão (que tão levianamente usamos) " lê-se como um romance" resume bem o caminho de facilidade e facilitismo que glorificou e acabou por desgastar o romance.

Tenho ouvido alguns escritores dizerem que a revolução dos livros está para breve. (E eu já estou impaciente). Bellatin acrescenta que essa revolução está a ser encorajada e inflamada por via dos formatos digitais e do consequente fim do poderio do 'papel'. Como se, com o desaparecimento do objecto-livro fossem também as regras,  os limites, as classificações do seu universo.
 Já não era sem tempo!

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

É um facto

Consta que Eça se encantou com Alexandria. Não propriamente por causa dos livros, que já tinham ardido há muito.

The Devil´s Home on Leave . Pouco barulho!

Christopher King (re)criou as capas de alguns dos clássicos de Derek Raymond, para a Melville House. Gosto particularmente da que fez para " The Devil´s Home on Leave".  Crime, mistério e muito sangue.
Sem barulho. (Na capa, pelo menos).

domingo, 23 de janeiro de 2011

Ventania não traz melancolia

Antenor cultiva como pode um certo ar triste e melancólico. É o que lhe fica melhor, sem dúvida! Mas não é fácil manter a tristeza e a melancolia, quando se vive num local assim tão ventoso.
Antenor tem de se mudar (e sair daquele vendaval).

sábado, 22 de janeiro de 2011

Foi colhida, a Rosemary.

Rosemary foi colhida por um comboio de passageiros que já tinha perdido a hora quando se cruzaram na passagem de nível de Bela Mandil.  

"Uma mulher colhida, faltava pouco para as cinco" - disseram nos jornais. Alguém disse. Há sempre pessoas com coisas para dizer.
Ainda espreitei da terceira carruagem mas não consegui ver nada disso. Só um mar de malvas e azedas, poucas figueiras e uma brisa quase vento. Um dia alegre, digam o que disseram. 
 
Com as suas vozes normais, as pessoas cá fora afirmavam que Rosemary fora "colhida, sem oferecer resistência". Ofereceu o crânio, o ventre, as coxas, o coração e as costelas...  ofereceu-se à fúria da composição.
Não lhe ofereceu resistência. 
Isso, não. 


(soube, depois, que não foi  re colhida na totalidade. estava o esqueleto demasiado disperso, a oferecer resistência)

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Crash

A capa de 'Crash'.  J. G. Ballard. 1977. Edição da Panther UK.





Esta é uma edição da Harper Perennial, mais recente. Gosto infinitamente mais da anterior.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

As coisas, tal qual estão


Coisas do cinema

 Ele diz que não importa, porque é assunto de cinema:
"Isso é coisa do cinema!"
E, então?
Que coisas são essas, do cinema?
Mais uma capa do livro de Fitzgerald que encontrei na página da Livraria Index . É uma edição da Editorial Presença, com tradução de José Rodrigues Migueis.
"O Grande Gatsby"!  Até fica bem, em português. 

capa mazota. tristíssima (no pior sentido).  lá porque é um clássico não merece uma capa morta. isto é um atentado.

sábado, 15 de janeiro de 2011

The Great Gatsby revisited

A edição de The Great Gatsby (F. Scott Fitzgerald), que fez parte da colecção "Penguin Essentials", dos anos 90. Uma capa estranha, quase sem leitura.

 
 

Não há fome que não dê em fartura e a capa da edição do 'Gatsby' em 2011, (Essential Penguins) é um bom exemplo disso, basta ver a quantidade de informação que lá está em comparação com a anterior. É uma aposta interessante, porque a apresentação das personagens desta maneira abre o livro logo na capa e faz-nos entrar, sem ainda termos entrado. Resulta numa estética algo curiosa, mas empurra muito para livro de aventuras e não sei se, neste caso, isso é bom ou mau. Para mim, é uma opção com certas fraquezas porque esta não é a aparência que as personagens de The Great Gatsby têm, na minha memória...  e isso consegue ser perturbador.
Conclusão: se nunca o tivesse lido, comprava-o. se já o tivesse lido, também.


No fabuloso Caustic Cover Critic há mais.

Revolução de jasmim. Muitos vivas!

Umas palavrinhas que fui roubar a Jean-Jacques Rousseau e ao seu  "Do Contrato Social" (1762), que dedico à Revolução de Jasmim
 :)
"O homem nasceu livre, e em toda parte se encontra sob ferros. De tal modo acredita-se o senhor dos outros, que não deixa de ser mais escravo que eles."

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Um alívio

Conheceram-se nos fundos de uma livraria, onde se encontravam para trocar impressões sortidas. Uma tarde, depois de muito dissertar sobre autores e teorias e enredos e estórias e as línguas em que são escritos, ele fixou-se na capa de "On the Road", do Kerouac, numa edição dos anos 90, da Penguin, que detestava, e disse-lhe (confessou) que era só por causa das capas que mexia nos livros e os comprava e que nos últimos tempos já quase não os lia, ou lia às golfadas e cada vez se deixava disso mais cedo, quase ao inicio, porque o que gostava mesmo, o que queria, era poder admirar as capas. Que o deixassem em paz com as capas!
Foi então que chegou a vez dela e ela disse (confessou) que nunca tinha ouvido nada tão raro e bonito no que a livros dizia respeito. E pôs-se a pensar, sem lhe dizer, que um homem que amava assim, o que só conhecia pela metade (ou nem isso) e virava costas ao desconhecido e às orgias de letras e frases e pontos, só podia ser um homem direito. Também no sentido de avisado e sensato.
Ela disse que já eram horas de saírem dos fundos da livraria.
Aliviados.
Ambos.

(as capas que encontrei no fabuloso Caustic Cover Critic )

'On the Road' de Jack Kerouac,
da edição "Penguin Essentials",
dos anos 90
(de que ele não gosta)
'On the Road', na edição
"Essential Penguins",
a lançar em 2011
(talvez goste. talvez não)

                                    

domingo, 9 de janeiro de 2011

É o que dá

O que tem de mais original e interessante é a queda para o assunto desinteressante.
É deveras excitante.

É isso

Interessa-se sobretudo pelo assunto desinteressante. Desinteressante, mas deveras importante.
Nisso, é intransigente.

Da série: ditos populares que valem o que valem

Les nuits sont enceintes et nul ne connaît le jour qui naîtra.

(em francês, porque o encontrei num texto de Edgar Morin e gosto de deixar as coisas como as encontrei)

sábado, 8 de janeiro de 2011

Não te zangues, não passa de um órgão inútil que consegue ser estúpido de tão surdo

Da série: Ditos populares que valem o que valem!

"Casei-me com o bonito, sem me importar da riqueza,
quero comer e não tenho, bonito põe-te na mesa".


(ou seja:  apesar das escolhas de consequência duvidosa que se podem eventualmente fazer, nem tudo está perdido, pois de uma forma ou de outra, não se morre à fome, e isso, parecendo que não, tem a sua importância)

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

canelas mordidas

Foi preciso os governos e os senhores políticos por esse mundo fora sentirem as canelas mordiscadas pelo Wikileaks para acordarem para a questão da regulamentação da net, os direitos de autor,  propriedade intelectual, e por aí fora. Quer dizer, estas duas últimas entram na enxurrada por arrasto, porque em bom rigor o que lhes interessa, agora, é regulamentar e ah! êxtase máximo: proibir, proibir.
A verdade é que neste momento lhes dá um jeitão misturarem os seus receios e intenções, ao coro de queixas de músicos e cineastas e escritores e demais autores que há muito tempo se queixam de verem as suas criações flagrantemente plagiadas e roubadas e de não serem justamente remunerados pelo que fazem, na net. Parece tudo a mesmo coisa, mas não é.
Vamos ver no que vai dar.

e bom fígado

Ricardinho morreu novo, muito novo, até. Tinha os pulmões cheios de ar.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Lamborghini tem ciúmes

Disseram-lhe que os cordeiros das planícies de Lhasa são os mais puros (de sangue).
Lamborghini esfolou três, cujas peles lhe ofereceu, ainda com o cheiro morno.
Têm uma relação.  (não se lembram se já a tinham antes das peles).

- tens ciúmes, Lamborghini ?