quinta-feira, 29 de abril de 2010

ideias que acompanham bem chá verde e torradas com compota de frutos vermelhos

Os que farão os livros à vida das pessoas que não os lêem?
Como viverão os livros na vida das pessoas que não os lêem?
Como convivem as pessoas com os livros que não lêem?
Como é que a literatura muda a vida de quem não lê?

terça-feira, 27 de abril de 2010

Enrique (I)



No momento em que se convenceu que podia vir a ser 'alguém na vida' e 'encontrar uma mulher', ao
tornar-se escritor, não ocorreu a Enrique que, para tal, teria forçosamente de escrever.
Quando caiu em si, sentou-se frente a um computador, ou a uma folha de papel ( não sei pormenores da vida do Enrique) e fê-lo,
assim:

" ... E eu sou adepto da tenebrosa linha de sombra destes tempos em que tudo, finalmente se nos tornou incompreensível e, quando nos falam do mundo já não sabemos do que é que se trata  e sentimos que tudo isso podia ser precisamente o começo de algo que poderia  manter-nos muito entretidos, talvez obcecados, durante um longo período de tempo, embora, isso sim, connosco sempre estupefactos, sem entender nada, sem saber do que se trata todo esse imbróglio da vida, a morte e outras bagatelas, sem uma única ideia válida para compreender o mundo, para já não falar em compreender a Síria".  

Não é bem aquilo que o Enrique diz, que eu tanto gosto nele. Nem sei bem explicar, mas acho que é o que vai dizendo enquanto, naturalmente, avança. É muitas vezes irónico, o Enrique, uma ironia quase transparente, como as folhas do mil folhas, quando é fino e delicado. E eu gosto muito de mil folhas!

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Eliot, antes de Hipnos

Fiz um recorte num dos poemas de que mais gosto, de entre todos os poemas de que gosto: "A Canção de Amor de J. Alfred Prufrock"
(T.S. Eliot)

"...
And indeed  there will be time
For the yellow smoke that slides along the
                                                     [street
Rubbing its back upon the window-panes;
There will be time, there will be time
 To prepare a face to meet the faces that you
                                                             [meet;
There will be time to murder and create,
And time for all the works and days of hands
That lift and drop a question on your plate;
Time for you and time for me,
And time yet for a hundred indecisions,
And for a hundred visions and revisions,
Before the taking of a toast and tea
...

Atenas e Esparta

Vi Esparta a passear com Atenas,
(é incrível, eu sei, mas verdade)
de mãos dadas, pelas margens frescas do Eurotas,
estava escuro, mas vi bem os cabelos negros azeitona de Atenas tombados sobre os ombros de Esparta.
Sim, era Esparta, isso é seguro!

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Lições de vida (I)

O ratinho foi à horta e encontrou uma bolota
o porquinho também lá quis ir mas ficou preso na casota

(era mais gordinho, mas a gula era tal que não se deu conta.

Não há mal nenhum em ser-se guloso(a), mas para evitar embaraços vale mais ter-se sempre um espelho por perto. Ajuda. Diz-nos como as coisas são. Se somos mais para o ratinho, se mais para o porquinho)

Coragem e genialidade, isso sim!



-Dizem que estás gordo e disforme
-Dizem que tens mau humor e maus fígados
-Dizem que a tua mulher não te aguentou mais e te deixou
-Dizem (e tu também dizes) que durante grande parte da vida foste dependente de cocaína e outros que tais
-Dizem (e tu também dizes) que isso te matou em vida
-Dizem que por causa desse teu desvio fatal não mereces ser considerado o melhor jogador de futebol de sempre (que és)
-Dizem que tens de ser publicamente castigado pela vida que levaste (como se isso não te tivesse já destruido em vida)

Há muito que lutas para te reergueres... , mas isso parece interessar pouco. Preferem olhar-te como um grosseiro e mal educado, porque vais para as conferências de imprensa dizer aos jornalistas para te fazerem coisas feias...
É muito bem feito!
Estás farto. E com toda a razão.

Mais respeito pela genialidade e pela coragem, ó suas bestas!

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Allegro

Por vezes, quando chove fora de época, há aula de italiano.
A de ontem começou assim: - ' vieni qua '

domingo, 18 de abril de 2010

gosto daqui...

... porque se vê  homens com calças de cor encarnada.

( A Laranja diz-me que é incapaz de se passear na rua, de mão dada, com um homem com calças de cor encarnada. E eu respondo-lhe: "um homem com calças de cor encarnada de mão dada a Laranja ...)
:)

gosto daqui...

... quando às vezes calha ir à mercearia (que também é taberna) na hora em que joga o Benfica.   

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Escrever baixinho

Vou dizer que o que eu gostava era de saber escrever baixinho. Muito baixinho, mesmo rasteiro! Sem levantar um grão de poeira, que seja. Aquela coisa cadenciada e em clausura, sem lugar a um fugaz 'alívio imaginativo', como diz o Nuno Ramos, do 'Ó'.  Só palavras atrás de palavras. Encadeadas umas nas outras. Bonitas, mas muito pouco ou nada vaidosas.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Sempre que penso em ti, Europa, vejo-te aqui...

... e aqui também!

Sobre a Europa

A Europa é sobretudo um continente percorrido a pé. E isto faz toda a diferença em relação ao resto do mundo. Numa conferência que deu no Nexus Institute (e que depois transformou no livro "A Ideia de Europa"), George Steiner defendia que a cartografia europeia é determinada pelas capacidades, pelos horizontes percepcionados dos pés humanos. E assim é. Claro que também há extensões de terreno difíceis, mas nenhuma é intransponível, como acontece noutros continentes. Ninguém atravessa a Amazónia a pé. Mas os Alpes, sim.
As distancias têm uma escala humana, são percorridas há séculos e isto foi moldando a  paisagem. Para Steiner, este facto determina a existência de uma relação essencial entre a humanidade europeia e a sua paisagem que, como em nenhuma outra parte do globo, tomou a forma de um tempo histórico-humano, mais do que geológico. Para isso muito contribuiram as longas marchas dos soldados de Alexandre, desde a Grécia continental às fronteiras da Índia e o deserto líbio. Assim como os quilómetros percorridos pelas legiões napoleónicas, de Portugal a Moscovo ou, depois, pelas unidades de infantaria que 'fizeram' as duas grandes guerras...
Creio mesmo que, apesar dos combóios de alta velocidade, da aviação low cost e das longas auto-estradas, esta é uma característica que a Europa nunca perdeu!

O futuro dos jornais

Li um artigo de duas páginas sobre a próxima exposição de Freud, em Paris. Nem uma palavra dele, ou de um crítico, de um mero apreciador, ou de um dos modelos que já pintou (como a Kate Moss)... ou até de quem já viu outras exposições. Nada de nada! Duas páginas nisto!

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Cão ladrão

Cão que ladra morde pouco, ou nada (mordisca)
(morder pouco também morde);
Cão que crava os caninos, morde muito e fundo,
não consegue, pois, ladrar;
Cão que ladra muito, muito, é cão ladrão
( e sabe-se lá se morde ou não)
ão, ão,
béu,béu,
arf,arf,
au,au

Aniz tinha um cão ladrão! Que ainda por cima era um trapalhão sem noção e desatava a ladrar sem mais nem porquê sempre, mas sempre no preciso momento em que Aniz encontrava a língua quente de Romeu, encosta ao banco de xisto, nas traseiras de casa, com um ombro quase a tocar a tangerineira.

– Cabrão do cão, praguejava Aniz! mas baixinho… não fosse chamar a atenção da avó, o que seria um problema, dado a avó não gostar do Romeu e muito menos do Romeu assim, às escuras e nas traseiras de casa, tão irregular na respiração!

E o cão:
ão, ão,
béu,béu,
arf,arf,
au,au

Cromoterapia

Gostava mesmo era do fundo negro, mas sem mais nem menos começou a asfixiar-me,
até que alguém disse: - que escuridão! e eu acendi a luz
 (mas tenho muitas saúdades...)
Sem meias medidas, mudei para o branco e foi uma boa sensação, no princípio
mas o branco desatou a engolir-me, assim que me via. Demente!

Vamos ver como te portas, azul,
tenho as maiores esperanças!

terça-feira, 13 de abril de 2010

A sulista

Gosto da escrita singular e nada, nada evidente, da sulista Flannery O´Connor. Em particular, do aparente carácter inofensivo das suas personagens.
Em "A gente sã do campo" :

"Além da expressão neutra que usava quando estava sózinha, Mrs Freeman tinha outras duas expressões, uma para a frente e outra para trás, que utilizava para todas as suas transacções humanas. A expressão para a frente era sólida e intensa como o avanço de um camião pesado. (...) Usava raramente a outra expressão, porque raramente precisava de retirar o que dissera..."

mais à frente,

"Nada é perfeito. Esta é uma das expressões preferidas de Mrs Hopewell. A outra era: é a vida! E ainda outra, a mais importante, era: bem, as outras pessoas também têm as suas opiniões".

É simples, é! mas esta gente, não acaba nada bem! 

Uma história de amor verdadeiro! (gorgonzola e morango)



´
Aqui está a prova da ligação amorosa entre gorgonzola e morango. Um caso insólito, mas gelidamente apaixonado. Pena não ser um amor eterno, como deveriam ser todas as histórias de amor. Estes dois, lá nisso, são sinceros e só prometem o que está ao seu alcance: prazer, puro prazer (e sem tempo a perder!)  
yep, yep, yep
shlep, shlep
yupi, yupi
yuhuuu
                                                                 
                                                                 

segunda-feira, 12 de abril de 2010

À Dora

Talvez não saibas, porque provavelmente nunca te disse, mas desde os tempos da faculdade, que é como quem diz, das 'Escadinhas da Praia', ali à 24 de Julho, que tenho em muita consideração as tuas palavras e as tuas observações.

Aqui tens uma pequenina prova disso mesmo  :)

morar em ti




Até parece que veio directa do coro da igreja para o palco...  mas estas letras eram bem atrevidotas!
"preciso morar em ti ... demora em mim..."!  muy bien!
É pena a orquestração: na maior parte da canção, a rapariga canta para um lado e a orquestra toca para o outro...

domingo, 11 de abril de 2010

Carne Viva


O meu primeiro frente a frente com a obra de Lucien Freud, aconteceu em Barcelona, numa grande retrospectiva da sua pintura e não correu nada bem.

Tantos nus e tanta carne exposta agoniaram-me, de alguma maneira. Aquela impressão crua e rude por todo o lado… Vi o que tinha a ver e saí, aliviada. E “pálida”, como bem notou o P., quando nos encontrámos, já na rua.
Desapontado com a (aparente) falta de sintonia entre mim e a obra de Lucien, mas compreensivo e sempre generoso com os seus conhecimentos, P. achou que era boa altura para me levar ao bar mais mal frequentado de toda a Catalunha. -“Vais ver - segredou-me -, é onde se preparam as mais fantásticas margaritas de todo o universo”. E era! Além de deliciosas eram tão simpáticas que se voluntariaram logo para me levar a palidez e o mal-estar. A esta distancia não sei dizer bem se foi disso, se da companhia, ou simplesmente da consequência trágica do que fica inacabado, o certo é que no dia seguinte dei comigo novamente em frente àqueles quadros. E no outro. E, depois, no outro!

Lucien Freud diz que «a aura que se liberta de uma pessoa é tanto parte dela quanto a sua carne» e é esta dimensão orgânica que lhe interessa captar para as telas que lhe saem das mãos através dos grossos pincéis de cerda de porco. Importa-lhe sobretudo o espaço físico que ocupamos e o efeito que isto produz à nossa volta. Por isso, observa e analisa aturadamente os objectos (corpos) que pinta, quase à exaustão. Daí tanta carne. E isso é tão verdade quando pinta o avantajado actor porno, Leigh Bowery, a rainha de Inglaterra, ou a sua própria mãe. Diz: “Gosto de ver as pessoas tão naturalmente e fisicamente à vontade como os animais” . Freud não faz retratos, tem horror à imitação, antes «pinta a pessoa real» intensificada, com rugas, varizes, cicatrizes, gordura…
Passa-se uma vez em frente ao quadro e vemos uma pessoa que nos é repugnante. À segunda, já é repulsiva. E a partir da terceira, já é quase atraente…

Sendo neto de Sigmund Freud, não deixa de ser curioso este interesse quase obsessivo pela dimensão fisiológica em detrimento da psicológica. Gosto de pensar que é uma embirração dele contra a tralha psicológica com que o entupiram durante a sua infância e juventude. Uma libertação!
Seja o que for, para mim, os quadros de Lucien Freud estão, além de tudo, impregnados daquela quase fatalidade que a arte carrega e que tanto fascina: não terminam quando acabam…

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Este é o genuíno, ' De Hollanda' e é tão bom de ouvir...

À primavera e ao amor...

Não sou nada o género forreta, mas estes morangos vermelhos e carnudos custaram-me 2.20€. Uma pequena roubalheira, que me doeu, porque sou avessa a roubalheiras descaradas. Fiquei azeda, logo ali na mercearia! Felizmente, porque há sempre um felizmente, os morangos estavam doces e descongestionaram-me à primeira mordida! Esqueci logo a estupidez do dinheiro que dei por eles.  
Antes de os devorar, porém, fotografei-os. Ei-los! Brindo com eles à primavera e ao amor.
       Estejam onde estiverem...   

Sonha que sonha

Dili sonha que sonha com um sonho que parece não ter fim.
Noite após noite. Um sonho sem fim. Com um cão lá dentro.
Parece impossível,
mas parecendo que não,
isto está a dar cabo dela!

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Wordwanker

Person who types random words or phrases into search engines in a vain attempt to find some sort of happiness to occupy their usually sad, loneley lives.

Spring me

A letter from Tripoli:

Oh Kiev ... look at you! allways complaining about everything and everybody! ( i need this, don´t need that; this is good to me, this is not; i like her, not anymore; he´s good, she´s bad...).

Don´t smile at me that way, please! It makes you look sad and lonely... even more! and it hurts me. mean it! really!
You need someone to spring you, baby. That´s just what you need,  she said.

good vibes

Blog "Fórum Benfica": Video da Semana!

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segunda-feira, 5 de abril de 2010

Vítimazinha




Ao N. assenta-lhe bem o papel de vítima. É um picante como outro qualquer. Há quem prefira procurá-lo frente a frente, nos olhos do touro. Doa o que doer!
O género do N. é mais aquela coisa pantanosa, doentia até, nem para a frente, nem para trás. Diz que não, mas queria era dizer que sim, ou ao contrário. Porque é o que lhe parece bem. Mas não tem a coragem necessária para encaixar isso e seguir em frente. Fica ali a vitimazinha a auto-flagelar-se, a cuspir ácido sulfúrico, a transformar o amor em ódio, a magicar vinganças ridículas e a remoer ideias falsas, que desconhece, mas que também não tem a coragem de enxergar e esclarecer. Porque o que gosta mesmo é ouvir aos outros e a si próprio: - coitado! sofre tanto... fazem-lhe tanto mal... pobre diabo! É um génio e é enganado e mal-tratado!
É o eco desta lamúria infantilóide que excita verdadeiramente o N.!

E os outros? alguma vez pensaste o que sentem? como os magoas? Consegues pensar em mais alguém além ti próprio, vitimazinha?

A procissão vai no adro e vai linda!

Houve um tempo em que apenas e somente aos homens era permitido transportar o andor durante a procissão. Regras são regras e homens são homens, já se sabe!  Às mulheres sobra-lhes em ideias e outras ligeirezas o que lhes falta em força de ombros! Curvam demasiado, não andam a direito... 
E os santos pesam muito. E são santos!
Mas eis senão quando veio outro tempo! A todos apanhou distraídos, tal foi a lentidão silenciosa com que se instalou. Neste outro tempo, os poucos homens de que se fala na aldeia, estão velhos, ou doentes, ou mortos.
"A procissão não pode acabar" diz o povo, sempre tão sábio e sensato! Pois siga então a procissão.  
Reparei no padre, meio-cabisbaixo, disfarçado mesmo, entre o seu rebanho.
Mas os santos não se queixaram, pareceu-me mesmo que gostaram.
Muito?
 É bom, porque vão repetir!  

eu rimo, tu rimas


Podia acabar a infelicidade, a dor, a fome, até! Mas o que acaba mesmo são as "ilusões em que o mundo nos seduz". É tão bonito! E dá que pensar, ó se dá! (mesmo que tenha sido tudo arranjado só para rimar com "cruz", o que eu não acredito).
Palavras sábias para apreciar enquanto se está vivo. O que não deixa de ser injusto, imerecido, um desperdício!