terça-feira, 30 de novembro de 2010

Considerações nada concisas sobre o excesso

Ludovico não era um desses homens vulgares. Era um homem feio.
- Desumano, de tão feio, ouvi-as dizer, entretidas a descaroçar frutos difíceis para a geleia.
Há algo nas pessoas feias que nos faz querer continuar a falar delas e sobre elas e eu não estou muito certa sobre a razão disso. Deve ser do excesso. Como não prestar atenção ao que nos ultrapassa?

Ludovico era um homem feio e não deixou a Lourença outra alternativa senão a de sucumbir ao excesso e cair desamparada numa paixão que elas diziam louca, mas que se veio a revelar cega.

sábado, 27 de novembro de 2010

geleia de marmelo vs orçamento de estado

 Arquitectar um orçamento de estado, com pouco para distribuir, não é tarefa simples, mas descascar marmelos (melimelus) cortar e retirar sementes, também não. Deixa as mãos doridas, arranhadas e com bolhas.

domingo, 21 de novembro de 2010

Sobretudo dedos


Desde que me entreguei, sem travões, aos prazeres da vida fácil que há nos teclados, desaprendi a minha caligrafia. Nunca pensei que desaprender pudesse ser tão indolor. A minha caligrafia desvaneceu-se por falta de uso e foi um alívio, porque enquanto existiu era medonha e autoritária. Uma monstruosidade que criei, alimentei e julguei insubstituível.

A dedicação fiel aos teclados enche-me de alegrias, mas tem altos e baixos, muito derivado do temperamento dos meus dedos.

Certos teclados parecem querer escrever sozinhos, o que não me agrada de todo: ainda nem sequer teclei e a palavra já lá está, sem vigor algum. São teclas demasiado delicadas, por onde os meus dedos, nada delicados, deslizam e escorregam sem atitude nem postura. E, por arrasto, as palavras também, mas no pior sentido.
Faz falta uma dose de pressão e ânsia.

Há ainda aqueles teclados ergonómicos e bem desenhados, esteticamente muito capazes, mas onde sobram dedos por todo o lado. Uma lástima...

Já me encantei com um teclado de teclas profundas, onde teclava como se estivesse a caminhar com pressa de chegar e com neve pelos joelhos. Foram quilómetros nisto. Uma fase de escrita batalhada e suada, que os meus dedos não desgostaram, dado que não se retraem em terrenos adversos. Mas foram vencidos pelo cansaço.
Noutra altura, uma estranha combinação entre o formato de um certo teclado e a articulação dos meus dedos, produziram uma irritante cadência de gralhas em tudo o que escrevia. Irritante, mas também fascinante! Os meus dedos viciaram-se em gralhas e não foi nada, mas nada fácil sair daquilo.  

Escrever é sobretudo dedos. Entrosamento entre dedos e teclados (ou o que for). Estarei a habituar mal os meus dedos?

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Amor na cozinha

'Cozinhar é um modo de amar os outros',  alguém bordou no canto de uma cortina .


Agrada-me muito quando um livro me escolhe.

Od (io) ao campo



-Não há no campo maior verdade do que a que sai dos tubos de escape em hora de ponta. 

Ah, a vida no campo!  

-Tanto ar puro e eu de nariz entupido!

Há uma cantilena que vem do campo para nos levar…  estende-se até onde encontrar a vida de uma cidade. Assobia virtudes, irresistíveis até para quem entende de arte contemporânea.  Contudo,  não se ouvem da autoestrada.  – Eu sigo por aí e não cedo a desvios.

- Não há no campo uma paz profunda, como a que invade o asfalto das autoestradas  e vias rápidas de longo percurso. Zzzzzzzzzzzzzzzzzzz… 
 
Para que diabo nos quer o campo?
O que nos quererá, que já não tenha levado?  

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Caça, Caçador, Caçada

Gostei de ler 'Leite Derramado' (Chico Buarque, D. Quixote, 2009) e acho que merece bem o PT (ao contrário do que tenho lido e ouvido por aí). Devo dizer, até, que já antes, me tinha agradado ler 'Budapeste' (D. Quixote, 2008). De todos os que li, apenas 'Estorvo' (1991) não me deixou  grandes memórias.
Talvez até não me importasse que Chico me lesse uns parágrafos, ou umas páginas de algum dos seus livros. Se se proporcionasse. E eu até antipatizo que me leiam seja o que for.
Chico compõe e canta. Escreve para as suas canções. Canta, dando a ideia de que aquilo está ao alcance de qualquer um... Eu acho que esse é um dos grandes trunfos de Chico, seja a cantar, seja a  a escrever.
Além de tudo isso, Chico tem muito charme.
Eis, Chico!
 

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

poets & scientists

it is poets who are widely supposed to have souls, while scientists must be content to have only minds...

(i am not a poet
 i am not a scientist)

terça-feira, 2 de novembro de 2010

da vida dos livros

Certos livros têm até muita sorte em ir parar a uma prateleira. E aguentarem-se por lá, com aquela vizinhança toda.

Cheguei à conclusão que a mesinha de cabeceira não é o local mais apropriado para os livros. Ou, pelo menos, para todos os livros, indistintamente. Há que avaliar as suas naturezas e singularidades dos seus temperamentos antes de os sujeitar a isso.
Certos livros alteram-se na mesinha de cabeceira e nunca voltam ao que eram. 

Há uma atracção irresistível entre lareiras e livros . Ser consumido numa (ou, por uma) lareira é a grande oportunidade de vida para muitos livros. É o êxtase!
Há livros que, embora lidos, nunca chegam a ser verdadeiramente consumidos. Não é terrível? Não é dramático?
Com uma lareira por perto isso nunca acontece. É uma segurança.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

UE e direitos humanos (1)

Por que não ter a coragem de fazer a diferença naquilo em que a UE pode, de facto, fazer a diferença?

uma sugestão aparentemente ridícula:
que tal deixar de comprar algodão ao Uzbequistão?

A minha agenda

 Lembro-me de desfolhar a agenda antes de a comprar, mas gostei tanto dela logo ali, que não me apercebi de nada desagradável (e se eu sou sensível a cheiros!).