terça-feira, 27 de abril de 2010

Enrique (I)



No momento em que se convenceu que podia vir a ser 'alguém na vida' e 'encontrar uma mulher', ao
tornar-se escritor, não ocorreu a Enrique que, para tal, teria forçosamente de escrever.
Quando caiu em si, sentou-se frente a um computador, ou a uma folha de papel ( não sei pormenores da vida do Enrique) e fê-lo,
assim:

" ... E eu sou adepto da tenebrosa linha de sombra destes tempos em que tudo, finalmente se nos tornou incompreensível e, quando nos falam do mundo já não sabemos do que é que se trata  e sentimos que tudo isso podia ser precisamente o começo de algo que poderia  manter-nos muito entretidos, talvez obcecados, durante um longo período de tempo, embora, isso sim, connosco sempre estupefactos, sem entender nada, sem saber do que se trata todo esse imbróglio da vida, a morte e outras bagatelas, sem uma única ideia válida para compreender o mundo, para já não falar em compreender a Síria".  

Não é bem aquilo que o Enrique diz, que eu tanto gosto nele. Nem sei bem explicar, mas acho que é o que vai dizendo enquanto, naturalmente, avança. É muitas vezes irónico, o Enrique, uma ironia quase transparente, como as folhas do mil folhas, quando é fino e delicado. E eu gosto muito de mil folhas!

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