quarta-feira, 15 de agosto de 2012

as estações só existem fora de casa

Com esta idade, ainda não sei dizer qual a estação do ano de que mais gosto. Isto pode dizer muito de uma pessoa. Gosto das quatro como as conheço. São belas e à sua maneira todas conseguem ser insuportáveis. Não há ninguém que maldiga das chuvas de verão. Sabem tão bem. Há tempos ouvi maltratar a primavera, porque lhe despenteava os cabelos e pingava quando não se está à espera... O outono é doce, é a estação da marmelada e da geleia de marmelo, mas às vezes isso enjoa. Gosto da secura do verão, é difícil o verão e isso cheira bem, mas não imagino ninguém a escrever poesia ou filosofia no verão. Como são deliciosas as sombras do verão. O inverno sabe muito bem em duas ou três situações: logo no início e quando se está fora dele, ou o vemos passar à janela. Gosto da expressão 'os rigores do inverno' e parecendo o contrário, é uma estação muito calorosa. Custa-me um bocadinho grafá-la sem maiúscula, é a que mais me custa. Lembro-me de ir para a faculdade de gola alta e casaco e agora há ar condicionado em todo o lado.Quem se atreve a usar gola alta, fora das estepes da Mongólia? A verdade é que as estações quase só existem na rua. Vivem pelas ruas, sem abrigo, que é como deve ser, mas é uma perda não as deixarmos entrar pela casa, nem nas casas por onde andamos, nem nos carros ou nos transportes. Ficam à porta. Saímos da rua e mudamos para um ambiente que não é nada, porque não é o morno ou o fresco que fazem as estações. A temperatura é apenas o mote. Entra, verão, entra! Bebes alguma coisa? Quero que te sintas em tua casa!

1 comentário:

  1. Que bonito! É tão bom quando deitamos cá para fora, em modo «palavras escritas», todas as sensações, pensamentos, sentimentos...não é? Mesmo sendo «material inútil» para quem o lê, torna-se «magnifico» para quem o escreve.Beijo. Dora

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