terça-feira, 5 de outubro de 2010

República I

Não deixa de ser sintomático do elevado estádio civilizacional da pátria e até do profundo e comovente humanismo que caracteriza as suas gentes, que a comemoração dos 100 anos da proclamação da República, por esse Portugal fora, seja, em grande parte, alegremente animada pela reconstituição de um momento negro e ignóbil da história de qualquer país: a morte (assassínio) de dois homens.
A barbárie pode ter muitos rostos. Geralmente, aparecem em magote e trazem as melhores das intenções.

5 comentários:

  1. Visto nessa perspectiva as comemorações são um exercício de humor negro...
    Nem sempre estes cortes "epistemológicos" ao longo da história envolvem morte e assassínio, mas a regra é normalmente e as excepções são escassas.
    A mim o que mais me choca são os discursos vazios, as cerimónias balofas e bacocas e a habitual propaganda que até nesta data não se remete ao silêncio tal é a obsessão compulsão...

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  2. podia até ser uma boa oportunidade de mobilização para se pensar o país - todas as áreas (estarei a delirar?). Optamos, como dizes, pela repetição do cerimonial bacoco e insultuosamente dispendioso. Isto incomodava, agora choca-me.

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  3. Primeiro gostava de dizer que gosto muito deste blogue, e que a grande e esmagadora maioria das coisas que aqui se escreve, leio-as com prazer, e divirto-me muito a lê-las.

    Segundo, para que saibas que eu acho a morte de um rei algo longe de uma tragédia, muito menos um momento negro, e nunca, mas nunca ignóbil. É de fraco reconhecimento histórico tudo o que envolveu aquele regicídio (não homicídio, há um nome para o acto). O povo estava mal, e tinha um rei que queria mais era desconhecer o que se passava, com tiques de absolutista, e que chamava ao seu próprio país a porcalhota, gostava de Londres e de Paris o tipo.

    Para que fiques a saber - terceiro ponto. No momento em que voltasse um rei à primeira figura do estado em Portugal, era o dia em que eu arranjaria uma arma e começava a planear o seu assassinato. Sim, eu Miguel Bordalo Dias. Não admito que uma linha de sangue seja imposta ao meu país como seu representante. Eu sou republicano e bebo um copo todos os anos à morte do rei no meu país. Este dia 1 de Outubro tem esse condão. Mas nesse dia, como no seguinte, no a seguir, e logo no que vem a seguir a esse, podemos discutir o estado da nação. Mas a importância de nos vermos livre de uma cambada de escrotos à frente da nação, é motivo mais do que suficiente para se festejar, e para se reconstituir, relembrar, beber um copito. Tal como é o facto de atirarem um traidor à pátria de um quarto andar dentro de um armário onde estava escondido a quando da independência da Espanha, que ainda tivemos por aqui uns filipinhos.

    Já te disse que adoro ler este blogue? Eu sou um bocadinho intenso nestas coisas da república, e da monarquia. Mas tirando isso até sou bom rapaz... ou não.

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  4. Caro Miguel,
    fico satisfeita de saber que vais lendo o blogue e gosto muito de ler os teus comentários por aqui.

    Eu acho que tirar a vida a alguém é sempre, de alguma maneira, uma tragédia.
    Eu, como republicana convicta que sou, não gostei nada de ver a comemoração dos 100 anos da proclamação da República ser festejada , em grande parte, com um exagerado recurso à reconstituição desse tipo de episódio. Acho boçal. A morte dos monarcas teve a importância que teve (e foi muita como se sabe) no desenrolar dos acontecimentos e, sim, isso deve ser lembrado e recordado quantas vezes forem necessárias.
    Mas há muito mais para saber, para conhecer: muita gente que se debateu com bravura,que lutou ( e que morreu por isso), que apresentou ideias; acontecimentos importantes antes e depois,... muita coisa que fica mal conhecida, porque preferimos gastar o dinheiro das comemorações a teatralizar o regicídio (como bem me corrigiste). Sem querer subtrair a importância devida ao acontecimento, estava à espera de mais. Acho que o país se deveria interessar por mais. É só isso. E tirando isso, até sou boa rapariga...

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  5. Boa tarde, a morte do Rei, num Portugal com oitocentos anos de história monárquica, foi muito mais do que um momento negro da História Nacional. Foi a morte de um homem. É certo que ele tinha características políticas muito próprias e capacidades que possivelmente não seriam as que mais convinham ao Portugal de então. Mas mataram-no. Pagou com a vida o simples facto de ter nascido Rei. Ele nunca pediu para nascer com tal condição. Também eu não sou monárquico, mas tenho a certeza de que a generalidade dos políticos de hoje (para já não falar dos governantes) tem mais culpas no cartório do que o Dom Carlos em 1908. Nem por isso defendo a sua morte. Portugal tem muitos séculos de uma história marcada pela capacidade de compreender e assimilar a diferença.´O meu Portugal é dialogante, aberto e respeitador dao direito que todos têm de defender aquilo que muito bem entendem. Quando assumem que se Rei houvesse seriam eles próprios a pegar numa arma para o matar, perdem a capacidade de serem Portugueses. Sem apelo nem agravo, é de assassinos que estamos a falar. Gostaria de saber se o sr. Miguel Bordalo está disposto a resolver com a mesma "intensidade" os problemas relacionados com os autênticos crimes que têm vindo a ser cometidos em Portugal nestes últimos anos: descolonização irresponsável com a morte de milhões de pessoas; aceitação da invasão de Timor com a morte de milhares de pessoas; Licenciaturas tiradas por fax ao Domingo; relações duvidosas com Freeportes; atentados à democracia escondidos por detrás das estratégias partidárias; etc. etc. etc. Quem mata é assassino. Para estes e para o assassino também talvez a deportação definitiva. É que todos em conjunto matam o meu Portugal. Cpts. JAH

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