terça-feira, 15 de junho de 2010

No país do 'ponciopilatismo'

Descobri alguns escritos do jornalista Artur Portela Filho. Estão reunidos numa edição da Arcádia (cinco volumes) do início dos anos 70 e que se chama 'A Funda'.
Portela Filho escreve sobre o país: a sociedade e os seus viciozinhos e maniazinhas e manobrazinhas e caneladazinhas e politicazinhas. Portugalzinho.
Há quem diga que é maldizente e detractor, o que, muitas vezes, é outra forma de dizer:  informado, atrevido, incómodo, cáustico q.b.
Portela Filho tem uma escrita despretensiosa, assertiva e com humor. Tem a sua voz.
É muito bom uma pessoa abrir um livro, ou um jornal, e encontrar lá disto.
Creio que muitos dos escritos de 'A Funda' não foram publicados em jornais. É o caso de 'Os Educocratas':

Outro dia, estive numa mesa redonda sobre Educação.
Estava um médico e estava um filósofo. Estava um advogado e estava uma professora da Faculdade de Letras.
E, claro, um educocrata.
Já era, quando lá chegou, vindo de um qualquer congresso, mas não sabia.
Continuava a ser, quando de lá saiu, a caminho de outro qualquer congresso, mas também não sabia.
E era-o porque tinha, da Educação, uma certa ideia. Esta: a reforma da Educação é, em si mesma, uma libertação.
E, consequentemente, esta: a reforma é apolítica.
E, claro, esta: os reformadores são apolíticos.
Ou, o que é o mesmo - se a reforma é uma política , é uma política da Educação. E só. Se o reformador é um político, é um político da Educação. E só.
Do resto, lava as suas mãos.
Isto é - a educocracia é um ponciopilatismo.
...
(Vol 4- pp.101)

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