quarta-feira, 2 de junho de 2010

Há vida na U E, mas a ‘CLE’ é que é!

Interrogo-me se os eurodeputados e comissários europeus assistem ao Eurofestival da Canção. Deveriam. Está cheio de boas dicas e pode ser inspirador para quem todos os dias ‘constrói a Europa’. Basta ver que o que sobeja de essência europeia, por ali, partilha e comunhão de interesses, alegria e até camaradagem (e sacanagem), é o que escasseia nos alicerces teórico-políticos que procuram sustentar a unidade entre os países da U E (passe a redundância).
 Já para não falar nas manifestações de pura estratégia: atente-se, por exemplo, no comportamento dos países, na altura das pontuações. A diplomacia (ou falta dela) entre vizinhos, ou amigos, pode ser uma lição para os euroburocratas. As direcções de voto podem dizer muito da postura de um país para com os seus pares.

Sempre que posso vejo o Eurofestival da Canção. É um mundo que ali está. Um mundo singular. Onde mais se poderia sentir aquele inesperado aroma ‘europeu’ de Israel e da Turquia?

Germinou no Eurofestival um género de ‘canção ligeira europeia’ (CLE). Alguns países, como Portugal, insistem em levar canções feitas à sua medida. É bom de ouvir (é sim), mas quem leva a taça é quem sabe fazer a ‘canção ligeira europeia’.  'Waterloo’ é uma canção europeia, não é sueca. E isto é independente do idioma em que se canta. Claro que, se Waterloo fosse cantada em sueco, talvez passasse a ser um bocadinho mais sueca do que europeia. É possível. Um bocadinho. Mas acho que continuaria a não passar despercebida…

-Seria tão mais surpreendente se cada um cantasse no seu idioma. 

-Houve um tempo em que o Eurofestival da Canção andou pelas ruas da amargura. Quiseram inovar e até deambulações metálicas se ouviram. Felizmente, isso acabou. Muito graças ao empenho dos países de Leste e dos Balcãs, que trouxeram sangue novo e estão a ajudar a rejuvenescer o grande festival, empurrando-o para a velha 'canção ligeira europeia’, de onde nunca deveria ter saído. Este ano, como se sabe, ganhou a Alemanha, com uma típica velha 'canção ligeira europeia’, cantada por uma quase teenager. Não é irónico? Poderia ter cantado outra coisa qualquer, mais à moda da Lady Gaga, mas não, optou pela velha 'canção ligeira europeia’. Alegre e festivaleira. Fez lindamente, porque ganhou. O que é bom é sempre bom. E o que é sempre bom, é bom!

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